Folha de S.Paulo

Estados negociam um ICMS nacional para combustíve­is

Proposta é adotar alíquota única em reais para suavizar oscilações nos preços

- Nicola Pamplona

Estados e o setor de combustíve­is discutem a mudança do modelo de tributação do ICMS para uma alíquota única em reais por litro.

A proposta, que pode suavizar os repasses das cotações internacio­nais às bombas, ganhou força após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que questiona o modelo atual.

A proposta já tem o apoio da área técnica do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária, que reúne as secretaria­s estaduais de Fazenda), mas ainda depende do convencime­nto dos governos estaduais, que resistem a reduzir sua autonomia na cobrança de impostos.

Hoje, o ICMS sobre os combustíve­is é recolhido nas refinarias e importador­es de combustíve­is, que atuam como substituto­s tributário­s de distribuid­oras e postos, estratégia para facilitar a fiscalizaç­ão pelas secretaria­s de Fazenda.

O imposto é calculado sobre um preço de referência definido pelos governos estaduais, chamado PMPF (preço médio ponderado final), sobre o qual incidem alíquotas diferentes por estados e por produtos. Nesse modelo, cada estado pratica suas próprias alíquotas.

Consideran­do as alíquotas e o PMPF atuais, por exemplo, o litro da gasolina comprado em São Paulo contém R$ 1,008 de ICMS —o mais barato do país—, enquanto na vizinha Minas Gerais o valor chega a R$ 1,450 —o mais caro.

A proposta em discussão propõe a instituiçã­o de uma alíquota nacional em reais por litro, que incidiria apenas nas refinarias, sem a necessidad­e de substituiç­ão tributária.

É bandeira antiga das empresas de combustíve­is, para quem o modelo atual abre brechas para a sonegação.

As discussões para a mudança na tributação ganharam força no último ano, depois que o STF entendeu, em julgamento de 2017, que os contribuin­tes podem pedir ressarcime­nto da diferença entre o preço de referência para a cobrança do imposto e o valor pago pelo produto.

O PMPF é definido com base em pesquisas e é usado em todas as operações de compra de combustíve­is, independen­temente do real preço praticado pelos postos. A decisão já leva revendedor­es de combustíve­is a secretaria­s de Fazenda para pedir o ressarcime­nto de valores pagos a mais.

“A substituiç­ão tributária está sendo questionad­a”, diz o secretário de Fazenda do Distrito Federal, Wilson de Paula, para quem a proposta em discussão poderia reduzir perdas e custos de fiscali- Como funciona hoje? Alíquotas variam por estado –entre 25% e 34% na gasolina e entre 12% e 25% no diesel– e incidem sobre preço de referência estipulado pelas secretaria­s de Fazenda a cada 15 dias

AC

AL

CE

DF

ES

PA

PB

PE

PI

PR

RJ

RS

SC

SE

SP Qual a proposta?

ICMS incidiria apenas sobre as refinarias, com uma alíquota única nacional cobrada em reais por litro, que poderia ser alterada em comum acordo entre os estados

na 2ª quinzena de junho por estado Gasolina (R$) Diesel S500 (R$)

Alíquotas por estado (%)

AM

AP

BA

GO

MA

MT

MS

MG

RN

RO

RR

TO

25 17 29 18 25 18 25 25 28 18 29 18 28 15 27 12 30 16 28 18 31 15 25 17 25 17 28 17 29 18 29 18 31 18 29 12 34 12 29 18 26 17 25 17 30 12 25 12 29 18 25 12 29 14

1,221

1,382

Composição média dos preços dos combustíve­is (mai.2018) Gasolina (R$/litro) Preço final zação. “Mas, com certeza, ainda não é consenso.”

De fato, estados consultado­s pela Folha, como Minas Gerais e Pará, disseram que ainda não têm posição sobre o assunto.

Combustíve­is representa­m parcela expressiva da arrecadaçã­o dos estados e há receio de que a perda de autonomia possa prejudicar a gestão financeira.

“Os estados não têm muita alternativ­a, vão ter de buscar um entendimen­to”, diz o presidente da Fecombustí­veis (entidade que representa os postos), Paulo Miranda, alegando que o risco de perdas com ressarcime­nto por impostos pagos a mais é grande.

A cobrança de imposto fixo sobre os combustíve­is foi uma das alternativ­as apresentad­as em entrevista à Folha pelo diretor-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombust­íveis), Décio Oddone, para suavizar os impactos da volatilida­de internacio­nal.

Como é cobrado hoje, o ICMS ajuda a aprofundar a volatilida­de dos preços, uma vez que a alíquota é um percentual que incide sobre preços de referência que também variam de acordo com o valor das bombas. Ou seja, quanto maior o preço, maior a parcela do imposto, e vice-versa.

AL

AP

AM

BA

CE

DF

ES

GO

MA

MT

MS

MG

4,154

3,755

3,602

3,771

3,755

3,464

3,777

3,432

3,832

3,77

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