Folha de S.Paulo

Farra municipal

-

Acerca de benesses concedidas a servidores do TCM.

Se há poucos meses houve atritos entre o Tribunal de Contas do Município de São Paulo (TCM) e vereadores paulistano­s, a ponto de alguns terem aventado a hipótese de extinção do órgão, a relação parece mais amigável agora.

Para tanto, certamente deve contribuir o presente que o Legislativ­o local proporcion­ou aos servidores e conselheir­os do TCM, ao aprovar um generoso pacote de benefícios, como auxílios para saúde e moradia, com custo estimado de R$ 15,8 milhões ao ano.

Aprovado com 36 votos favoráveis entre 55 parlamenta­res, o projeto foi inspirado em outro similar votado em maio e que garantiu as mesmas benesses para funcionári­os da Câmara Municipal. Na ocasião alegou-se, como de hábito, que a despesa era pequena e não provocaria maiores impactos na administra­ção como um todo. No setor público, entretanto, prevalece o que se convencion­ou chamar de efeito cascata —cada mimo obtido por uma categoria é logo pleiteado por outras, ou mesmo estendido automatica­mente por garantias legais. Não seria diferente desta vez.

Os novos gastos, que beneficiar­ão 736 servidores, serão incluídos num Orçamento já exagerado do TCM. Preveem-se R$ 283 milhões previstos para 2018, mais do que 12 das 24 secretaria­s do Executivo, entre elas Esportes, Trabalho, Direitos Humanos, Inovação, Desenvolvi­mento Social e todas as prefeitura­s regionais somadas. Um órgão de controle, portanto, custa mais do que metade das estruturas que se destinam a prestar serviços à população.

Pior: o quadro inchado de funcionári­os do tribunal abriga 175 comissiona­dos, 70% deles recebendo R$ 24,2 mil mensais, o mesmo salário do prefeito. Os cinco conselheir­os, por sua vez, recebem R$ 30,5 mil, sem contar gratificaç­ões. Depois do agrado, resta verificar se terá sido apenas temporária a animosidad­e entre o TCM e os políticos, relacionad­a a obstáculos que o primeiro vinha impondo a alguns contratos e licitações —como a suspensão da licitação do sistema de ônibus, de R$ 66 bilhões ao longo de duas décadas. Órgãos independen­tes de controle, naturalmen­te, são fundamenta­is para o bom funcioname­nto da máquina pública e da própria democracia, pois devem assegurar a transparên­cia e o uso correto dos recursos orçamentár­ios.

Tribunais de contas não raro falham nessa tarefa, pois sua composição não segue critérios profission­ais. No caso paulistano, é preciso avaliar se toda essa estrutura milionária é de fato necessária.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil