Esquerdista López Obrador tem vitória folgada e é novo presidente do México
Futuro mandatário promete liberdade empresarial e que não haverá expropriação de bens
Com a promessa de ir “contra a máfia do poder”, Andrés Manuel López Obrador, 64, foi eleito presidente do México neste domingo (1º), na primeira vitória de um esquerdista em um país que nos últimos anos optou pela centro-direita.
Mesmo antes de os resultados oficiais serem divulgados, seus dois principais rivais na disputa à Presidência, José Antonio Meade e Ricardo Anaya, reconheceram a derrota.
O resultado preliminar do INE (órgão eleitoral), apresentado às 23h local (1h de Brasília) confirmou a vitória por ampla margem de López Obrador, com 53,8% dos votos. Em segundo lugar vieram Anaya, com 22,8%, e Meade, com 16,3%. A participação foi de 62% dos eleitores.
Por volta das 21h30 locais, as principais avenidas que levam ao Zócalo (praça histórica da capital mexicana) começaram a ficar congestionadas. No local também está instalado um telão para transmitir os jogos do México na Copa.
Às 23h15 locais, López Obrador deu seu discurso de vitória pedindo “reconciliação” aos mexicanos. AMLO disse que “as mudanças serão profundas, mas com apego à ordem legal estabelecida. Não haverá expropriação nem apropriação de bens”.
E acrescentou: “haverá liberdade empresarial, de expressão e civis”. Disse estar convencido de que a “corrupção desatou a violência em nosso país, portanto combater a corrupção será prioridade”.
Após perder de modo apertado as eleições presidenciais de 2006 e 2012, AMLO tornouse o favorito neste pleito por causa sobretudo dos problemas internos prementes do México: os mais citados são corrupção, violência, pobreza.
AMLO pegou carona nesse ambiente de voto de castigo contra o atual presidente, Enrique Peña Nieto, e o establishment mexicano.
A aprovação de Peña Nieto está em 20%, e em queda, após escândalos de corrupção, fra- casso em diminuir a desigualdade, aumento da violência e resignação diante dos ataques do vizinho do norte, o presidente Donald Trump —que já parabenizou AMLO e diz estar ansiosoparatrabalharcomele.
López Obrador foi eleito com a promessa de reduzir a desigualdade e aposta, para isso, em programas sociais, aumento do salário mínimo e maior participação do Estado no setor petroleiro —uma das iniciativas de Peña Nieto foi privatizar parcialmente a Pemex (a Petrobras local).
A disputa mexicana definiria também um novo Congresso, câmaras regionais, mais de 1.600 prefeituras e nove dos 32 governadores, entre eles o cargo de chefe de governo da Cidade do México, que tem status de estado —pesquisas apontam que a capital elegeu pela primeira vez uma chefe mulher (Claudia Sheinbaum, do mesmo partido de AMLO) e que a coalizão dele terá maioria absoluta no Senado.
No México, o voto é obrigatório, embora não exista penalidade para quem não compareça —89 milhões de pessoas estavam aptas a votar.
Apesar do clima de tranquilidade no horário de votação, houve episódios de violência registrados.
Em Quintana Roo, um dos estados mais afetados pela violência, mais um jornalista foi assassinado a tiros no sábado (30).Trata-se de José Guadalupe Chan Dzib, 35, o sexto jornalista morto no México neste ano. Em 2017 foram 12, e, em todo o período de Peña Nieto, 42. Nenhum responsável até agora foi preso.