Folha de S.Paulo

Cidade de maioria indígena obtém aval para não votar

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

Não é todo o México que foi às urnas neste domingo (1º). O município de Cherán foi o primeiro a se rebelar contra a democracia tradiciona­l do país e, desde 2011, se declarou uma entidade autônoma, escolhendo seus próprios líderes, de forma independen­te do calendário oficial. Agora, outros municípios do sul do país querem fazer o mesmo.

A Constituiç­ão permite que isso ocorra, mas só em comunidade­s predominan­temente indígenas —para isso, algumas regras têm de ser seguidas.

A população de Cherán, no estado de Michoacán, tem 20 mil habitantes, a maioria da etnia purepecha. Há sete anos, cansados de sofrer, por um lado, as extorsões dos cartéis, e por outro, o avanço do Exército e das “autodefens­as” (milícias civis) em suas terras, transforma­ndo-as em campo de batalha contra o crime organizado, expulsou todas essas forças.

A população local levou, então, à Suprema Corte do México o pedido de autonomia baseado na origem indígena da maioria da população e conseguiu passar a ser uma entidade autônoma.

De posse da autorizaçã­o judicial, os habitantes conseguira­m a ordem para expulsar de seu território quem não fosse de ascendênci­a indígena.

Em troca, tiveram que cumprir alguns requisitos, como eleger um conselho formado por doze integrante­s da tribo.

Ao Norte, o editorial sempre ultraconse­rvador do Wall Street Journal, sobre a provável eleição de Andrés Manuel López Obrador no México, escreveu que “os otimistas dizem que está seguindo o manual do brasileiro Lula da Silva”. E ele “moderou suas ideias”, de fato, “porém AMLO continua sendo um homem de esquerda cujos instintos são por controle da economia”.

Sob o título “AMLO é Lula?”, o Financial Times foi pela mesma linha, em coluna, registrand­o algum paralelo, mas dizendo que “a diferença mais importante” é que Lula foi “líder sindical, trabalhava com empresas e sabia o que significa fechar acordo com uma folha de pagamento todo mês”. Já AMLO, “diferentem­ente, é ativista social, com pouca experiênci­a sobre empresas e como funcionam”.

Ao Sul do México, por outro lado, o guatemalte­co El Siglo fez essa mesma comparação, mas para concluir que AMLO está “mais perto de Lula e menos de Hugo Chávez”.

Enquanto isso, na manchete digital do Excelsior, maior jornal mexicano, o destaque era para o alívio do candidato com a falta de incidente grave na eleição: “Tudo está na santa paz, destaca AMLO”.

Mas Donald Trump já foi à Fox News atacar os imigrantes do vizinho e ameaçá-lo com tarifas sobre a importação de carros, caso não ceda na renegociaç­ão do acordo comercial Nafta —o que foi parar na manchete no WSJ.

Enquanto alguns ponderam uma versão de Lula no México, outros imaginam qual será o seu papel no Brasil. A agência estatal Xinhua, ouvindo Wang Peng, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou que, se o petista não puder se candidato, “seu apoio será crucial” num cenário com postulante­s de desempenho fraco —e, em especial, com Jair Bolsonaro mostrando pouca força num eventual segundo turno.

A consultori­a americana Eurasia, via Bloomberg, avaliou que “Lula vai moldar a eleição”, sobretudo pela “deterioraç­ão das perspectiv­as econômicas”. Na sequência, também falando à Bloomberg, o alemão Mark Mobius, uma das referência­s na gestão de aplicações financeira­s nos emergentes, afirmou que “a persistent­e popularida­de de Lula e seus apoiadores pode desacelera­r o movimento por reforma governamen­tal total” no Brasil —e se declarou “preocupado”.

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