Cidade de maioria indígena obtém aval para não votar
Não é todo o México que foi às urnas neste domingo (1º). O município de Cherán foi o primeiro a se rebelar contra a democracia tradicional do país e, desde 2011, se declarou uma entidade autônoma, escolhendo seus próprios líderes, de forma independente do calendário oficial. Agora, outros municípios do sul do país querem fazer o mesmo.
A Constituição permite que isso ocorra, mas só em comunidades predominantemente indígenas —para isso, algumas regras têm de ser seguidas.
A população de Cherán, no estado de Michoacán, tem 20 mil habitantes, a maioria da etnia purepecha. Há sete anos, cansados de sofrer, por um lado, as extorsões dos cartéis, e por outro, o avanço do Exército e das “autodefensas” (milícias civis) em suas terras, transformando-as em campo de batalha contra o crime organizado, expulsou todas essas forças.
A população local levou, então, à Suprema Corte do México o pedido de autonomia baseado na origem indígena da maioria da população e conseguiu passar a ser uma entidade autônoma.
De posse da autorização judicial, os habitantes conseguiram a ordem para expulsar de seu território quem não fosse de ascendência indígena.
Em troca, tiveram que cumprir alguns requisitos, como eleger um conselho formado por doze integrantes da tribo.
Ao Norte, o editorial sempre ultraconservador do Wall Street Journal, sobre a provável eleição de Andrés Manuel López Obrador no México, escreveu que “os otimistas dizem que está seguindo o manual do brasileiro Lula da Silva”. E ele “moderou suas ideias”, de fato, “porém AMLO continua sendo um homem de esquerda cujos instintos são por controle da economia”.
Sob o título “AMLO é Lula?”, o Financial Times foi pela mesma linha, em coluna, registrando algum paralelo, mas dizendo que “a diferença mais importante” é que Lula foi “líder sindical, trabalhava com empresas e sabia o que significa fechar acordo com uma folha de pagamento todo mês”. Já AMLO, “diferentemente, é ativista social, com pouca experiência sobre empresas e como funcionam”.
Ao Sul do México, por outro lado, o guatemalteco El Siglo fez essa mesma comparação, mas para concluir que AMLO está “mais perto de Lula e menos de Hugo Chávez”.
Enquanto isso, na manchete digital do Excelsior, maior jornal mexicano, o destaque era para o alívio do candidato com a falta de incidente grave na eleição: “Tudo está na santa paz, destaca AMLO”.
Mas Donald Trump já foi à Fox News atacar os imigrantes do vizinho e ameaçá-lo com tarifas sobre a importação de carros, caso não ceda na renegociação do acordo comercial Nafta —o que foi parar na manchete no WSJ.
Enquanto alguns ponderam uma versão de Lula no México, outros imaginam qual será o seu papel no Brasil. A agência estatal Xinhua, ouvindo Wang Peng, da Academia Chinesa de Ciências Sociais, afirmou que, se o petista não puder se candidato, “seu apoio será crucial” num cenário com postulantes de desempenho fraco —e, em especial, com Jair Bolsonaro mostrando pouca força num eventual segundo turno.
A consultoria americana Eurasia, via Bloomberg, avaliou que “Lula vai moldar a eleição”, sobretudo pela “deterioração das perspectivas econômicas”. Na sequência, também falando à Bloomberg, o alemão Mark Mobius, uma das referências na gestão de aplicações financeiras nos emergentes, afirmou que “a persistente popularidade de Lula e seus apoiadores pode desacelerar o movimento por reforma governamental total” no Brasil —e se declarou “preocupado”.