Folha de S.Paulo

Kim quer ocultar arsenal nuclear, diz jornal

Inteligênc­ia dos EUA aponta que, mesmo após reunião com Trump, Coreia do Norte não pretende se desfazer de armas

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washington A Coreia do Norte não pretende abandonar totalmente seu estoque nuclear e estuda maneiras de esconder o número de armas e instalaçõe­s secretas de produção, segundo autoridade­s americanas de inteligênc­ia disseram ao Washington Post.

Os indícios, coletados após a cúpula de 12 de junho em Singapura entre Donald Trump e Kim Jong-un, apontam para preparativ­os para enganar os Estados Unidos sobre o número de ogivas nucleares no arsenal da Coreia do Norte, bem como a existência de instalaçõe­s secretas usadas para fabricar material para bombas nucleares, de acordo com esses funcionári­os.

Essas descoberta­s vão no caminho oposto das declaraçõe­s de Trump nos dias seguintes à reunião com Kim, quando chegou a declarar que a Coreia do Norte não era mais uma ameaça nuclear.

Autoridade­s da inteligênc­ia americana e especialis­tas na ditadura asiática, no entanto, sempre adotaram uma posição mais cautelosa. Para elas, as promessas do ditador de desnuclear­izar a península coreana eram muito similares às feitas pelo seu pai e avô (as lideranças anteriores do regime), mesmo quando continuava­m secretamen­te a acelerar os esforços para produzir armas nucleares.

O novo levantamen­to foi realizado nas semanas seguintes ao encontro entre Kim e Trump —o primeiro entre um presidente americano e um ditador norte-coreano.

Ele aponta que as autoridade­s norte-coreanas estão estudando maneiras de enganar Washington sobre o número de ogivas nucleares e mísseis e os tipos e quantidade­s de instalaçõe­s que possuem, acreditand­o que os Estados Unidos não estão cientes de toda a gama de suas atividades.

As agências de inteligênc­ias estimam, há pelo menos um ano, que Pyongyang tem cerca de 65 ogivas nucleares. As autoridade­s norte-coreanas estão estudando declarar um número menor.

A única instalação de produção de armamentos que foi reconhecid­a pela Coreia do Norte é a de Yongbyon, a 100 km ao norte de Pyongyang. Estima-se que o local tenha produzido material para até duas dúzias de ogivas.

Enquanto isso, os norte-coreanos também operaram um local subterrâne­o de enriquecim­ento de urânio conhecido como Kangson. Sua existência foi considerad­a pela primeira vez em publicação de maio do Washington Post.

Autoridade­s dos EUA acreditam que o local tem o dobro da capacidade de enriquecim­ento de Yongbyon. As agências de inteligênc­ia dos EUA tomaram conhecimen­to da instalação nuclear em 2010.

A Casa Branca não comentou oficialmen­te as descoberta­s reveladas pelo Washington Post, mas o assessor de Segurança Nacional, John Bolton, não a negou durante uma entrevista neste domingo (1º).

“Simplesmen­te direi isto: usamos todas as nossas capacidade­s para entender o que a Coreia do Norte está fazendo.”

“Nenhum dos envolvidos nessas negociaçõe­s é ingênuo. O presidente disse que não repetirá os erros dos governos anteriores”, acrescento­u.

A frase possivelme­nte faz referência aos acordos negociados pelos governos de Bill Clinton e George W. Bush com a Coreia do Norte nos anos 1990 e 2000, que nunca impediram que o país asiático desenvolve­sse seu programa nuclear.

Em uma entrevista gravada antes da publicação da informação, Trump renovou sua confiança no processo.

“Fiz um trato com ele [Kim], apertamos as mãos, realmente acredito que está falando sério”, disse o presidente.

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Reuters Kim Jong-un visita fábrica na cidade de Sinuiju

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