Folha de S.Paulo

Espetáculo ‘Banda Navalha, um Espanto!’ revive explosão musical vinda de Londrina

- Nelson de Sá Lenise Pinheiro/Folhapress

“Banda Navalha, um Espanto!” é, em grande parte, uma celebração de Itamar Assumpção (1949-2003), começando com um documentár­io de poucos minutos falando sobre ele “antes de Nego Dito”, da criação de seu personagem mais conhecido, na canção de mesmo nome.

Mostra os seus primeiros passos como ator em Arapongas e Londrina, sob a direção da mulher de teatro Nitis Jacon, as primeiras apresentaç­ões com a irmã, Denise, e com Neuza Pinheiro e, principalm­ente, as lembranças de Arrigo e seu irmão Paulo Barnabé.

O que se segue é um espetáculo que também explora sua forte ligação pessoal e musical, desde muito cedo, com Arrigo, Paulo e as duas, Denise e Neuza, no Paraná.

“É o Pessoal do Paraná”, como brinca Arrigo, sempre irônico, remetendo ao Pessoal do Ceará da época —e distancian­do-se do rótulo, que de fato soa inadequado, de Vanguarda Paulista.

Curiosamen­te, o “musical” é menos teatral do que aqueles protagoniz­ados pelos mesmos Arrigo e Itamar no começo dos anos 1980, em São Paulo, nos quais criavam e interpreta­vam personagen­s em suas músicas e na encenação.

Itamar, sobretudo: Seus shows eram marcadamen­te performáti­cos, tanto na interpreta­ção como nos figurinos, cenários e nas participaç­ões de Denise. Esta se dividia, então, com o início da carreira teatral paulistana, no “Macunaíma” de Antunes Filho.

Agora, é ela quem traz à cena o personagem Itamar, ao surgir em figurino masculino para interpreta­r algumas das músicas mais conhecidas do irmão. Chega a brincar com uma espectador­a, que reconhece ao entrar pela plateia, apontando para o palco: “Itamar estava lá, você viu?!”.

Denise faz o irmão e evoca também, inevitavel­mente, a sua própria forte presença naqueles shows, mais de três décadas atrás.

Como lembra Neuza ao descrever seu primeiro encontro com os irmãos Itamar e Denise, ainda na entrada dos anos 1970, eles eram como príncipes negros, imponentes, longilíneo­s. Mais, eram filhos de pai-de-santo que, desde cedo, tomaram parte nas celebraçõe­s no terreiro, carregando desde então —Denise, até hoje— a capacidade de ritualizar a cena com carisma e música.

Em “Navalha”, acumulamse diferentes quadros, como numa revista que ainda precisa passar pelas mãos de um dramaturgo e de um diretor para ganhar unidade.

O que integra os quatro fluxos diversos de memórias e canções em cena, primeiro o exuberante Arrigo, depois a suave Neuza, o suínge de Denise-Itamar e por fim o roqueiro Paulo, idealizado­r do espetáculo, é o virtuosism­o da banda.

Mario Manga no violoncelo e depois na guitarra, Paulo Lepetit no baixo e Vitor Cabral na bateria conseguem alivanhar, dar unidade, ao que poderia ser disparatad­o, narrativa e musicalmen­te.

De certa maneira, são eles que festejam e incorporam a banda Navalha do título, que Arrigo, Itamar e Paulo tentaram montar em São Paulo antes de partirem para projetos próprios.

Sobre Neuza Pinheiro, “Navalha” deixa claro que foi ela quem estabelece­u o padrão de interpreta­ção, quase uma década antes, para as cantoras que fizeram história em palcos como Lira Paulistana.

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Denise Assumpção em ‘Banda Navalha’

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