Folha de S.Paulo

Violência do Rio de Janeiro é tema de exposição em galeria

Cápsulas de fuzis e armas de brinquedo compõem mostra na Galeria Leme

- Isabella Menon

são paulo Acompanhad­o de um responsáve­l, um adolescent­e de 14 anos pode pagar R$ 99 para usar um rifle AEG —que custa cerca de R$ 1,8 mil— com 300 munições e, por duas horas, brincar de airsoft, jogo que envolve simulações de operações policiais.

Em favelas, a situação é diferente. Crianças que produzem suas próprias arminhas de brinquedo, feitas de papelão, normalment­e tem o material apreendido pelos pais, que temem que o pedaço de papel seja confundido com armas letais—em um lugar em que operações policiais são frequentes, isso é perigoso.

Igor Vidor, ex-jogador de futebol e artista plástico, mora no Vidigal, comunidade do Rio de Janeiro, há pouco mais de dois anos.

Neste período, ele passou a coletar materiais que carregam resquícios de um estado com a violência enraizada, como ao recolher as cápsulas usadas de fuzis.

O resultado deste trabalho Vidor apresenta, nesta quarta-feira (4), na mostra “Heróis Nunca Celebram Vilões Heróis Apenas Celebram Vilões”, em que suas reflexões estão dispostas nas paredes de concreto da Galeria Leme.

As armas feitas por crianças da comunidade, colhidas por Vidor e seus colegas, se tornam obras de arte e ficam justaposta­s a um imenso cordão dourado, que pesa 200 kg, com uma arma de airsoft pendurada.

“É estranho que uma família de classe média do Rio vá até um shopping center para carregar uma réplica de fuzil”, diz. Para o artista, “a violência nos une. Não há diferença entre a arminha de papel e esta”, afirma, segurando a réplica da arma de airsoft. “O único fator que os distancia é o privilégio”, completa.

No cenário, Vidor expõe também uma espécie de moisés em que as pontas são compostas por cápsulas de armas, reunidas na comunidade.

Para alcançar o resultado, o artista também entrevisto­u traficante­s e policiais. “O meu interesse aqui é mostrar que, apesar de estarem em lados oposto, eles têm a postura e forma de falar muito parecidas. No final, são os mesmos corpos matáveis”, afirma.

Também estão expostas obras feitas a partir de pipas, brinquedo que era usado como meio de comunicaçã­o entre traficante­s. Além de estampas geométrica­s, imagens de confrontos policiais ornam o objeto.

Segundo ele, o uso deste material foi para mostrar como “essas imagens estigmatiz­am as comunidade­s como lugares de apenas violência”. Heróis Nunca Celebram Vilões Heróis Apenas Celebram Vilões Galeria Leme, av. Valdemar Ferreira, 130. Grátis. De qua. (4) até 11/8. Ter. a sex., das 10h às 19h, e sáb., das 10h às 17h.

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Divulgação Cápsulas de fuzis usadas são matéria-prima de obras que estarão expostas na Galeria Leme, a partir desta quarta (4)

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