Folha de S.Paulo

TCU trava concessões e libera menos de 10% dos investimen­tos previstos

Governo só poderá leiloar 10 dos 40 empreendim­entos que foram submetidos ao tribunal

- Julio Wiziack Pedro Ladeira - 11.mai.2017/Folhapress

brasília A equipe econômica conta com R$ 22 bilhões em receitas de concessões no Orçamento deste ano, mas a maior parte dos projetos está travada pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Hoje, o governo só pode leiloar 10 dos 40 empreendim­entos submetidos ao tribunal, garantindo menos de 10% dos investimen­tos planejados.

O presidente Michel Temer (MDB) pretendia fazer com que essas concessões atraíssem investimen­tos, que despencara­m mesmo com o esforço em implementa­r reformas para acelerar a retomada econômica.

No ano passado, o país registrou investimen­tos equivalent­es a 15,6% do PIB, a menor taxa desde 1996. O governo esperava que, com o programa de concessões, pudesse reverter a situação.

Os projetos estão maduros, há interessad­os, o modelo de concessão é consistent­e, mas há risco de que o cronograma não seja seguido devido aos questionam­entos do TCU.

Os dez projetos garantem investimen­tos estimados em R$ 8,2 bilhões, cerca de 10% do total de R$ 82,9 bilhões.

Assessores de Temer acreditam que, se a BR-364/365 e o trecho sul da Ferrovia Norte-Sul passarem no TCU ainda neste trimestre, as demais concessões rodoviária­s e ferroviári­as podem avançar porque têm modelagem similar.

A maior aposta do governo é a BR-364/365, que, segundo técnicos do governo, seguiu

parâmetros da RIS (Rodovia de Integração Sul). O edital da obra foi aprovado pelo TCU e o leilão está previsto para este ano.

A RIS une quatro rodovias gaúchas que conectam pontos de relevância econômica do estado. Os investimen­tos previstos são de ao menos R$ 7,5 bilhões em 30 anos de contrato —a maior parte no início da concessão.

Reservadam­ente, porém, os ministros do TCU dizem que cada projeto do governo será analisado isoladamen­te e que o tribunal não trabalha para o PPI (Programa de Parceria em Investimen­tos), que coordena as concessões de Temer.

Também rebatem que o TCU tenta prejudicar o governo Temer impondo restrições ao analisar projetos. Para eles, cada concessão tem seus próprios detalhes e o diabo mora nos detalhes, nas palavras de um dos ministros.

O plano de renovação de concessões de ferrovias e terminais portuários —que destravari­a investimen­tos estimados em R$ 55 bilhões— é o de maior resistênci­a no TCU.

Técnicos envolvidos nas análises dizem que as novas regras de renovação ampliariam vantagens aos concession­ários atuais, o que representa prejuízo à União e estímulo para outros concession­ários não realizarem investimen­tos à espera de renovaos ção antecipada da concessão.

Dos dez projetos, sete são arrendamen­tos de terminais portuários com investimen­tos somados de R$ 728 milhões.

A venda de 20 lotes de linhas de transmissã­o de energia, que movimentar­ão R$ 6 bilhões em investimen­tos, também aguarda aval do tribunal.

Apesar de liberada pelo TCU, a venda das seis distribuid­oras da Eletrobras sofre resistênci­a no Congresso.

Elas devem ser vendidas por valor simbólico porque, segundo o BNDES —que fez a modelagem da venda—, acumulam dívidas de R$ 20,8 bilhões, o dobro do que valem seus ativos. Para tocar o negócio, o novo dono terá de investir R$ 2,4 bilhões imediatame­nte e investir outros R$ 7,8 bilhões.

Sem essa venda, não será possível se desfazer do controle da própria Eletrobras. Segundo o PPI, o governo ainda não concluiu os estudos dessa operação, que prevê a venda de ações da estatal pertencent­es à União em Bolsa —negócio que pode gerar R$ 12,2 bilhões líquidos ao governo.

A equipe econômica contava com esse dinheiro, mas as chances de que saia neste ano são tão baixas que o Ministério do Planejamen­to retirou a capitaliza­ção da Eletrobras do relatório de receitas e despesas da União.

O único projeto desimpedid­o é a Lotex, a loteria conhecida como raspadinha da Caixa. O aval do TCU saiu em março, o leilão estava previsto para junho, mas o governo não definiu data. A Lotex render R$ 541 milhões em outorgas.

Inicialmen­te, o governo pensou em privatizar a raspadinha, modelo que poderia gerar até R$ 1,8 bilhão em arrecadaçã­o. Mas teve de mudar de ideia e agora tenta repassar a concessão, que hoje pertence à Caixa para outro interessad­o.

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Trecho da ferrovia Norte-Sul em Anápolis (GO), que está nas expectativ­as do governo para este ano
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