Folha de S.Paulo

Fortnite é sucesso que adultos ignoram

Para muitos, é mais interessan­te acompanhar os torneios do game do que a Copa

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio)

Quem vive em Marte (ou quem tem mais de 30 anos) corre o risco de nunca ter ouvido falar do maior fenômeno de mídia atual no Ocidente, o game Fortnite.

Para ter uma ideia, o jogo já foi baixado mais de 60 milhões de vezes em diversas plataforma­s, incluindo celulares. Não é raro que em um momento qualquer mais de 3 milhões de pessoas estejam conectadas jogando simultanea­mente.

A revista New Yorker chamou o jogo de uma mistura de beatlemani­a com crise dos opioides. Há diversos vídeos no YouTube mostrando a reação de crianças contra os pais que tentam impedi-las de jogar, ou depoimento­s de pais dizendo que “perderam” seus filhos para o game.

A versão do jogo que se tornou febre foi lançada em setembro de 2017. Para quem nunca jogou, o enredo é relativame­nte simples. Um grupo de jogadores é lançado em uma ilha, onde deverão lutar uns contra os outros até o último sobreviven­te.

Em outras palavras, vence quem sobrar. Para sobreviver, é preciso coletar armas, remédios, bem como material de construção (como madeira). Esses últimos são utilizados para criar estruturas estratégic­as (como pontes) que são fundamenta­is para vencer.

O jogo lembra uma mistura do filme “Jogos Vorazes”, mas com elementos do popular game Minecraft.

Para piorar, há uma tempestade que vai circundand­o a ilha, obrigando todos os jogadores a convergir progressiv­amente para a mesma área. Isso frustra a possibilid­ade de sobreviver ficando escondido o máximo possível e só aparecer quando a maioria dos demais jogadores já desencarno­u digitalmen­te (essa estratégia é conhecida como “camping” e não é bem-vista).

O mais importante de Fortnite é que ele não interessa somente a quem joga. O game se tornou um jogo-espetáculo, cujas partidas são transmitid­as ao vivo pelo site Twitch (de propriedad­e da Amazon e parceiro da Disney) e assistidas por milhões de pessoas. Para muita gente, é mais interessan­te acompanhar os torneios de Fortnite do que a Copa do Mundo.

Tanto é que o principal jogador de Fortnite, chamado Ninja, foi mais de uma vez ao longo deste ano o atleta global como maior engajament­o em redes sociais do mundo, deixando para trás o português Cristiano Ronaldo, na segunda posição.

O rapper Drake também se juntou a Ninja para jogar Fortnite ao vivo, evento que viralizou. Aparenteme­nte, Drake acaba de escrever uma música em seu novo disco em que fala de Ninja.

Tudo isso leva a refletir sobre a mudança rápida do ecossistem­a de mídias. O Twitch, por exemplo, é hoje uma das principais plataforma­s de comunicaçã­o com adolescent­es e jovens adultos do planeta. Não por acaso, ninguém menos que a Nasa (agência espacial americana) acabou de abrir um canal na plataforma para manter sua relevância entre jovens. Jogada acertada. Em pouco tempo, conseguiu 2 milhões de seguidores na plataforma.

Fortnite é um fenômeno, mas é bem possível que a maioria dos leitores de jornal nunca tenha ouvido falar dele. Vale lembrar que aprender a falar com jovens neste mundo hiperconec­tado é o santo graal de qualquer mídia. E Fortnite é hoje um dos principais elementos para isso.

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