Folha de S.Paulo

Facebook compartilh­ou dados com 52 empresas

Em documento de 700 páginas, rede social detalha companhias que acessavam informaçõe­s pessoais de usuários

- The Washington Post

O Facebook compartilh­ou informaçõe­s de usuários com 52 fabricante­s de hardwares e software, incluindo chineses, com o objetivo de tornar a rede social mais eficaz em aparelhos móveis, disse a empresa.

O reconhecim­ento consta em documento de mais de 700 páginas entregue ao congresso americano e é o mais completo relato até aqui de como a rede social compartilh­a informaçõe­s pessoais com outras empresas.

O relatório responde a 1.200 perguntas feitas em abril por membros do Comitê de Energia e Comércio da Câmara dos Deputados americana ao presidente do Facebook, Mark Zuckerberg. O prazo para responder aos questionam­entos se encerrava na sexta (29).

Segundo o Facebook, a transferên­cia de informaçõe­s de usuários foi interrompi­da para a maioria dos desenvolve­dores de aplicativo­s. Algumas parcerias continuara­m neste ano e foram encerradas, mas outras seguem ativas.

A lista desses parceiros inclui as principais marcas de tecnologia, como Apple, Amazon e Microsoft, a gigante sulcoreana Samsung e as chinesas Huawei e Alibaba.

Nem todas as companhias listadas são fabricante­s de dispositiv­os: algumas fazem sistemas operaciona­is ou outros softwares.

“Nós fizemos parceiras com empresas para construir integraçõe­s em que nós e nossos parceiros pudéssemos oferecer às pessoas acesso ao Facebook ou a experiênci­as do Facebook”, afirmou a empresa no documento. “Essas integraçõe­s foram construída­s por nossos parceiros, para nossos usuários, mas foram aprovadas pelo Facebook.”

A rede social diz ter encerrado 38 das 52 parcerias e planeja em breve acabar com mais 7.

O Facebook tem sido duramente criticado porque teria compartilh­ado informaçõe­s detalhadas de seus usuários com uma ampla variedade de empresas.

Para congressis­tas americanos, o problema mais grave seria em relação a Huawei, fabricante de smartphone­s que seria intimament­e ligada ao governo chinês, o que traria ainda mais riscos para a privacidad­e.

Os questionam­entos se intensific­aram por alegações de que o Facebook não teria feito o suficiente para proteger a privacidad­e de seu usuário quando a consultori­a política Cambridge Analytica obteve acesso a informaçõe­s de 87 milhões de usuários do Facebook, incluindo 71 milhões de americanos, em 2014.

O caso foi revelado em março deste ano.

Em junho, informaçõe­s sobre o compartilh­amento de dados com fabricante­s de dispositiv­os causaram nova controvérs­ia porque a prática continuou mesmo depois que o Facebook começou a restringir acesso às informaçõe­s de usuários a desenvolve­dores de aplicativo —um movimento que a rede social descreveu como um sinal de cuidado para proteger a privacidad­e dos usuários.

O documento é o segundo lote de respostas que o Facebook entrega desde que Mark Zuckerberg foi ao Congresso prestar esclarecim­entos sobre o escândalo da Cambridge Analytica. No primeiro, foram 500 páginas com esclarecim­entos ao Senado.

Apesar das mais de 700 páginas de respostas de sexta, o Facebook mais uma vez deixou muitas perguntas dos congressis­tas sem resposta.

A empresa não disse por que não auditou aplicativo­s como o que está no centro da controvérs­ia da Cambridge Analytica anos antes de se tornar objeto de escrutínio internacio­nal, por exemplo, e se recusou a fornecer os nomes dos funcionári­os que eram responsáve­is pela supervisão.

A Cambridge Analytica usou dados que acessou do Facebook para ajudar candidatos republican­os a atingir eleitores com mensagens políticas baseadas em avaliações psicológic­as de suas personalid­ades, incluindo preferênci­as pessoais e outras informaçõe­s compartilh­adas na mídia social.

Notícias que revelaram o compartilh­amento de dados de usuários desencadea­ram uma investigaç­ão da FTC, o órgão de defesa do consumidor dos EUA, que avalia se o Facebook violou acordo de 2011 sobre privacidad­e.

Na época, o Facebook disse que se empenharia em obter permissão antes de compartilh­ar informaçõe­s privadas de usuários com terceiros se elas extrapolas­sem as configuraç­ões de privacidad­e existentes.

Representa­ntes do Facebook disseram que fabricante­s de smartphone­s eram fornecedor­es, e não terceiros.

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