Folha de S.Paulo

Torcida do Brasil urra nas ruas, mas é tímida nos estádios

Brasileiro­s compraram mais de 70 mil ingressos para partidas da Copa do Mundo na Rússia, segundo a Fifa

- -Camila Mattoso, Diego Garcia e Sérgio Rangel

Com a terceira torcida que mais comprou ingressos para a Copa, atrás apenas dos EUA, que não disputam o torneio, e da Rússia, que sedia a competição, o Brasil vem lotando as cidades por onde a seleção passa no Mundial.

Torcedores vestidos e pintados de verde e amarelo fazem festa nas ruas da Rússia e gravam e divulgam nas redes sociais. O clima, porém, ainda não chegou aos estádios em que a seleção jogou.

Ao menos na primeira fase da Copa do Mundo, os brasileiro­s foram maioria nas arenas que receberam jogos da seleção, mas acabaram ofuscados pelos rivais no grito.

Sem sincronia nos cantos e separados em pequenos grupos, distantes uns dos outros, passam a maior parte do jogo sentados e só extravasam nos momentos de gol do Brasil.

“Eu adorei a animação da torcida fora dos estádios. Muitas bandeiras, acessórios verde e amarelo, várias músicas e animação. Dentro do estádio, provavelme­nte pela ansiedade e tensão do momento, nós, brasileiro­s, deixamos a desejar na torcida”, disse Amanda Bittencour­t, 31, que assistiu ao jogo do Brasil contra a Costa Rica, em São Petersburg­o.

“A torcida fica toda concentrad­a em silêncio e apenas comemora nos gols. Vi também o jogo entre França e Dinamarca, e lá eles faziam a ‘ola’ e incentivav­am quase a partida toda”, continuou a brasileira.

Tanto no jogo contra os costa-riquenhos quanto diante de suíços e sérvios —os mais barulhento­s entre os rivais do Brasil—, as camisas amarelas e azuis da CBF eram maioria nas arquibanca­das e nas cidades que sediaram os jogos: São Petersburg­o, Rostov e Moscou, respectiva­mente.

Nessas cidades, os brasileiro­s criaram pontos de encontro, fizeram churrascos e ensaiaram canções de incentivo criadas para esta edição do Mundial. A mais entoada, porém, continua sendo a música criada para a Copa do Mundo de 2014, que celebra os mil gols de Pelé e ofende o argentino Diego Maradona.

Durante as partidas, o único momento em que os brasileiro­s conseguem ser dominantes é quando toca o hino nacional, antes do jogo. Repetiram o que foi feito na Copa das Confederaç­ões, em 2013, e no Mundial do ano seguinte e seguem cantando quando encerra o tempo de execução previsto no protocolo da Fifa.

“Eu achei a torcida fora do estádio com uma grande animação. Muita festa pelas ruas, coisa que só brasileiro realmente sabe fazer. Mas, dentro do estádio, eu senti falta da pressão que as torcidas fazem no Brasil”, disse Filipe Granada, 34, empresário, que está em Samara para ver o jogo contra o México.

Na internet, vídeos que mostram centenas de brasileiro­s no metrô de Moscou, na véspera do jogo contra a Sérvia, cantando uma nova música que menciona todos os cinco títulos do país em Copas ficaram famosos. A letra diz: “58, foi Pelé. 62, foi Mané, 70, o esquadrão. Primeiro tricampeão. Em 94, Romário. 2002, Fenômeno. Primeiro tetracampe­ão. Único pentacampe­ão. Brasil, eô, Brasil, eô”.

“Os brasileiro­s ficam espalhados pelo estádio, e aí complica um pouco essa torcida organizada”, disse Pedro Gutierrez, 28, que é formado em comunicaçã­o social.

Gutierrez está na Rússia com mais 11 amigos. Eles criaram uma conta no Instagram chamada “Perdidos na Rússia”, em que publicam fotos e vídeos da viagem. Têm dormido nos trens que os levam de uma cidade a outra e às vezes em hostels baratos.

“Todos são amigos desde a infância, e cada um tem seu time de coração. O Brasil é nossa oportunida­de de torcer junto. Começou na Copa de 2014. Nós fomos a muitos jogos e decidimos que estaríamos na Rússia de qualquer maneira. Nos organizamo­s e vamos a todos os jogos do Brasil até a final”, afirmou.

Segundo a Fifa, o Brasil foi o terceiro país que mais comprou ingressos para o torneio, com 72.512 aquisições.

“Adorei a animação da torcida fora dos estádios. Muitas bandeiras, várias músicas e animação. Dentro do estádio, nos jogos, nós, brasileiro­s, deixamos a desejar Amanda Bittencour­t torcedora brasileira na Rússia

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Lee Smith/Reuters Torcedores do Brasil, no estádio São Petersburg­o, durante jogo contra a Costa Rica

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