Folha de S.Paulo

Anfitriões sorriem como nunca em festa nas ruas

- -Silas Martí

Dizem que os russos não sorriem. É mentira. Eles não só sorriem como berram, gargalham, dançam e urram de alegria como se vivessem o último instante de suas vidas.

Minutos depois da vitória nos pênaltis da seleção russa sobre os espanhóis, as ruas do centro de Moscou viraram um mar de bandeiras do país e paus de selfie com celulares erguidos para registrar a cidade entrando em convulsão.

No trânsito parado, torcedores chegaram a subir em cima dos carros para dançar ao som do coro “Rússia, Rússia, Rússia”. Outros buzinavam e desfilavam em seus conversíve­is, vestindo a bandeira do país como capas de super-herói agitadas no vento da tarde.

Uma avenida de bares e teatros do centro mais uma vez foi tomada por torcedores que fecharam a passagem. Os bancos públicos chegaram a ser destroçado­s, virando pó debaixo dos pés de fãs eufóricos demais que fizeram deles um trampolim na hora da vitória.

Mesmo os que não quiseram sair de casa para celebrar a inesperada classifica­ção de seu time se debruçavam para fora de suas janelas e das sacadas dos prédios em arriscadas acrobacias.

Nos brindes mais animados pelas ruas, copos e garrafas chegavam a quebrar e trincar, deixando um rastro de cacos de vidro que não parecia incomodar ninguém. Mesmo os policiais já tratam o proibido consumo de álcool em vias públicas como a nova norma.

“Não me lembro da última vez que vi uma coisa dessas, talvez só quando comemoramo­s a vitória contra os alemães na guerra”, dizia Artem Pronishev, que festejava a vitória com amigos no bar. “Nunca esperei esse resultado, mas no fundo, bem no fundo, eu até tinha uma esperança.”

Esperança, aliás, é a palavra que a maioria dos torcedores usava para descrever a reação à emocionant­e partida e suas previsões para o futuro dos anfitriões no torneio.

“Só podemos ter expectativ­as, é esperança mesmo”, dizia Misha Lyalkov, outro torcedor. “A certeza é que pelo menos agora todos nós vamos estar festejando até o dia seguinte.”

Uma variedade de acessórios e roupas até agora não vistos nesta Copa também deu as caras. Russos inovaram com chapéus de pelúcia, penachos, lacinhos, e até coroas e vestidos tradiciona­is desfilados por algumas mulheres.

Pelo menos ao longo de uma noite, os russos pareciam estar sorrindo tudo o que não sorriram em suas vidas.

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