Excessos se ajustam em ‘Nos Vemos no Paraíso’
Baseado em romance premiado de Pierre Lemaître, filme narra fim da Guerra de 1914 e vida em Paris após o armistício
CINEMA
Nos Vemos no Paraíso ★★★☆☆
(Au Revoir Là-Haut). Canadá/ França, 2017. Direção: Albert Dupontel. Elenco: Nahuel Pérez Biscayart, Albert Dupontel, Laurent Lafitte. 16 anos. Em cartaz Com uma combinação rara de extravagância e naturalismo, Albert Dupontel leva às telas o romance que rendeu a Pierre Lemaître o Prêmio Goncourt de 2013, narrativa dos últimos dias da Guerra de 1914 e da vida em Paris após o armistício.
“Nos Vemos no Paraíso” é narrado em primeira pessoa por Albert Maillard (interpretado pelo próprio Dupontel), que rememora, num longo flashback, seu tempo de soldado na Colina 113.
Numa batalha, Albert cai em um buraco, e seu amigo Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart), ao resgatá-lo, é atingido por um obus que lhe deforma o rosto definitivamente. Depois da guerra, os dois se associam numa série de trambiques.
A história de um sobrevivente desfigurado que muda de identidade não é nova no cinema —poderíamos lembrar o hábil roteiro de “Phoenix” (2014), de Christian Petzold. Mas, embora os dois filmes compartilhem o clima noir, o tom de Dupontel é outro.
A visualidade fantasiosa, o encadeamento das ações fluido porém pouco verossímil, a mise-en-scène maneirista e a atuação do próprio realizador no papel de protagonista conferem aspecto farsesco ao longa francês. Mas é verdade que o absurdo da guerra e suas situações extraordinárias justificam os excessos.
Eles estão presentes, em primeiro lugar, na fotografia. O tom sépia recorrente em narrativas de época se soma a uma paleta de cores que vai do mais sombrio à exuberância extrema.
Pontuado por coincidências pouco críveis, o roteiro não chega a surpreender. Consegue, no entanto, comover, sobretudo graças ao cativante personagem de Édouard. As engenhosas máscaras que lhe cobrem o rosto não nos impedem de acessar suas emoções —a expressividade de Biscayart deve ser louvada.
Mas, se os filmes anteriores de Dupontel chamavam atenção pelas soluções criativas, seu longa de maior orçamento (perto de € 20 milhões, ou R$ 92 milhões) se destaca pelo exibicionismo.
Por fim, a atuação de Dupontel deixa a desejar. Seu olhar, sempre assustado, traz uma comicidade às vezes inadequada. Talvez fosse melhor não tê-lo como ator e diretor.