Folha de S.Paulo

Em menos de 24 horas, Theresa May tem 3 baixas em seu gabinete

Boris Johnson e mais dois aliados deixam o governo, e premiê corre o risco de enfrentar votação que pode tirá-la do poder após 2 anos

- Daniel Buarque

Na semana em que completa dois anos no poder, a primeira-ministra britânica, Theresa May teve três baixas em sua equipe em menos de 24 horas e enfrenta um dos momentos de maior pressão desde o início do seu atribulado governo.

Entre o domingo (8) e esta segunda-feira (9), renunciara­m o chanceler Boris Johnson, o secretário do governo para o “brexit”, David Davis, e seu número dois no Departamen­to da Saída da União Europeia, Steve Baker.

A saída desses que eram alguns dos seus secretário­s mais importante­s, e de maior confiança do partido, está sendo vista como o maior desafio a May desde que os conservado­res (tories) perderam a maioria absoluta no Parlamento, em junho de 2017 . Eles dependem de aliança com o norte-irlandês DUP (Partido Unionista Democrátic­o) para ter maioria.

A debandada do governo ocorreu depois que May anunciou, na sexta (6), que seu go- verno havia chegado a uma posição comum para a criação de uma área de livre-comércio entre o Reino Unido e a União Europeia após o “brexit”.

Apesar do tom confiante de May, o anúncio foi recebido com fortes críticas dentro do seu partido.

Pelo projeto de manutenção de livre-comércio, o governo britânico se compromete­ria a manter regras da UE para bens e produtos agrícolas. Parlamenta­res a favor de um rompimento mais radical argumentam que a proposta prende o Reino Unido ao bloco e dificulta novos acordos no resto do mundo.

A primeira evidência de que o acordo anunciado era uma ilusão foi registrada dois dias depois, quando Baker e Davis, até então responsáve­l por negociar a saída do país da União Europeia, pediram demissão.

Davis não só saiu, como divulgou uma carta em que criticou as políticas defendidas por May. “A direção geral da política nos deixará, na melhor das hipóteses, numa posição de negociação fraca e possivelme­nte inescapáve­l”, disse.

Nesta segunda (9), Johnson, que havia ajudado a costurar muitos dos acordo do “brexit” dentro do governo, decidiu também abandonar o governo. Em sua carta de renúncia, ele acusou May de se render às demandas da UE.

“O sonho do ‘brexit’ está morrendo”, disse o agora exchancele­r, afirmando que o país caminha para ser uma colônia da União Europeia.

Ele será substituíd­o pelo deputado conservado­r Jeremy Hunt, que antes cuidava da pasta da Saúde.

As saídas dos secretário­s estão sendo tratadas em Londres como um abalo nas bases do governo May.

Davis era visto por muitos entre os tories a favor do “brexit” como um dos principais articulado­res para uma saída da UE nos moldes defendidos pelo partido.

Johnson, por outro lado, é um dos políticos mais populares e controvers­os do país e

um dos principais porta-vozes dos defensores do “brexit” no Reino Unido desde antes do plebiscito de junho de 2016.

As renúncias aprofundam a crise no governo e aumentam as chances de novos pedidos de demissão e da convocação de uma votação para retirar a primeira-ministra do poder.

A saída da premiê, porém, não é tarefa fácil. O primeiro passo é o menos complicado: para convocar a votação, é necessário o aval de 48 dos parlamenta­res conservado­res. Para retirá-la do poder, porém, 159 dos 318 deputados do partido precisam concordar.

Um porta-voz de May disse que ela resistirá qualquer tentativa de derrubar seu governo. Em um discurso no Parlamento após as renúncias, a primeira-ministra admitiu divergênci­as internas sobre o “brexit” levaram às renúncias.

A premiê afirmou que a UE precisa trabalhar de maneira construtiv­a com a proposta de seu governo para que o Reino Unido não deixe o bloco sem um acordo.

May rejeitou a acusação de estar fazendo muitas concessões à UE. Ela argumenta que seu plano é de um divórcio “suave e ordeiro”, para que o Reino Unido possa criar suas próprias leis e fazer acordos comerciais.

Na tentativa de estancar a sangria, May escolheu o deputado Dominic Raab para ser o novo secretário do “brexit”. Raab, 44, é advogado, foi ministro da Habitação e foi eleito ao Parlamento em 2010. Ele é conhecido por ser forte defensor da saída da UE. Já Baker será substituíd­o por Chris Heaton-Harris.

Segundo a revista The Economist e o jornal The Guardian, a indicação e o discurso de May foram bem-vistos pelo partido e podem indicar que ela vai ter uma postura mais forte nas negociaçõe­s.

Além da pressão dentro do seu próprio partido, May foi criticada pela oposição. Durante sessão no Parlamento nesta segunda-feira, o líder trabalhist­a, Jeremy Corbyn, responsabi­lizou a primeirami­nistra pelo que chamou de “bagunça”.

“A equipe apontada por ela para garantir esse acordo para nosso país pulou do barco afundando”, disse.

A saída do Reino Unido do bloco está marcada para 29 de março de 2019, e May deve divulgar na quinta (12) a íntegra de seu plano para o “brexit”. Mesmo assim, a UE vem advertindo de que o tempo para chegarem a um acordo está terminando.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou nesta segunda-feira que o “brexit” está longe de ser resolvido e que nada mudou após a saída de Davis.

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A premiê britânica, Theresa May, no Parlamento do Reino Unido
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AFP
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Boris Johnson Prefeito de Londres de 2008 a 2016,foi um dos principais líderes da campanha que levou o país a deixar a União Europeia, em 2016. Chegou a ser cotado para o cargo de premiê, mas barrado pelo próprio partido
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