França diz que dará palanque a Dias e acena a Ciro Gomes
Apesar disso, governador de SP, candidato à reeleição, afirma que mantém apoio a Alckmin para a Presidência
Na sexta (6), o último dia em que o calendário eleitoral permitiu que participasse de inaugurações ou autorizasse a liberação de recursos, Márcio França (PSB), governador de São Paulo, participou de uma cerimônia discreta num salão a poucos metros de seu gabinete no Palácio dos Bandeirantes para anunciar os planos de construir uma nova faculdade de medicina da USP em Bauru. A obra ainda não tem prazo ou orçamento.
Com poucos prefeitos e aliados, a solenidade era diferente do que se viu no Bandeirantes nas últimas semanas: anúncios de programas que devem constar nos planos de governo de França, que disputará a reeleição, com dezenas de prefeitos organizando-se em filas para receber a promessa de verbas para seus municípios.
O governador recebeu a Folha depois do evento em seu gabinete.
No sofá de sua sala, França comentava notar um desânimo geral no país que contaminava também a classe política. Disse que, não raro, costumava receber prefeitos que pensavam em renunciar. Ser associado a Geraldo Alckmin é bom negócio? Não faço as coisas porque é bom negócio, faço porque acredito. Para um país que está nessa situação, nessa dificuldade de aprovar reformas, se não tiver alguém com muita experiência e tato, uma certa cancha, pode não aguentar. Muita gente vai fazer vida pública, fica um pouco e sai.
Como João Doria [PSDB]? É
um caso típico. Veja bem, me programo pra ficar quatro anos e fico um, passo a sensação de que tinha uma coisa mais atraente que essa. Há suspeitas de corrupção no governo estadual que se aproximam do sr. Em junho, o presidente da Cesp, Laurence Casagrande, foi preso. Não o afeta? Não. Todo mundo sabe as relações de onde vêm. O Laurence é tucano. Mas isso não é para me livrar dele, não —eu o tenho e o reputo como pessoa idônea. Apenas estou dizendo que ninguém o vincula diretamente comigo, vinculam mais com o PSDB.
Ainda que o sr. o tenha mantido na presidência da Cesp? Ele foi preso no cargo. Hoje, as pessoas têm a condição de prender antes de apurar. Quando você prende uma pessoa, sinceramente, já denegriu a imagem dela. Se quando acusa denigre, imagina prender. Espero que as denúncias sejam apuradas e, depois, haja a devida reparação. Vivi com muitos políticos e, no caso do Alckmin, ponho a minha mão, minha cabeça e meu filho no fogo de ponta a ponta. O sr. é alvo de ações do PSDB que o acusam de usar a máquina pública para se promover. Esperava essas ações tão fortes do partido? Não. Eu tenho sido tão leal com eles, com as coisas deles, que sinceramente não esperava.
O que se conta é que a ofensiva do PSDB contra o sr. teria feito o PSB paulista questionar o apoio a Alckmin ou ficar mais permeável a apoiar a aliança com Ciro Gomes [PDT]. Defendo e defendi que meu partido se aproximasse da pessoa que acredito que seja a mais preparada para se tornar presidente [Alckmin]. Mas o PSDB, evidentemente, tinha que dar contrapartidas em alguns estados, que não precisaria ser necessariamente São Paulo. No Espírito Santo, Brasília, são lugares em que temos candidatos ao governo muito fortes. Mas como o PSDB é forte em todos os lugares, não abre mão em lugar nenhum. Existem vários PSDBs. O governador Alckmin vem falar aqui comigo constantemente. Ele tem muita preocupação com as coisas do governo. Ele tem vindo ao palácio? Tem. Quando foi a última vez? Duas semanas atrás. O sr. tem entre seus aliados outros pré-candidatos à Presidência, como Alvaro Dias. Subirá no palanque com ele? Claro. Já fiz evento com ele. Assim como outros, se tiverem.
Ciro? Pode ser. Se o PDT estiver comigo, claro. O sr. disse que o PSDB deveria priorizar a candidatura de Alckmin. No seu partido, dizse que o PDT tem feito isso. É
um sinal melhor? Claro. É só você olhar os caminhos hoje. A questão de o PDT priorizar e abrir mão [de candidaturas estaduais] em função do Ciro facilita a junção. No caso do meu partido, tem sido essencial. No Espírito Santo eles estão abrindo mão, em Pernambuco. Qual o argumento que uso para falar: olha, o PSDB não está abrindo mão para a gente em lugar nenhum, mas eu gostaria de apoiar o PSDB? Hoje o sr. é favorável ao apoio
do PSB a Ciro? Não, sou favorável ao Alckmin. Mas constato uma realidade: o PDT está propondo priorizar o Ciro.