Folha de S.Paulo

França diz que dará palanque a Dias e acena a Ciro Gomes

Apesar disso, governador de SP, candidato à reeleição, afirma que mantém apoio a Alckmin para a Presidênci­a

- Gabriela Sá Pessoa

Na sexta (6), o último dia em que o calendário eleitoral permitiu que participas­se de inauguraçõ­es ou autorizass­e a liberação de recursos, Márcio França (PSB), governador de São Paulo, participou de uma cerimônia discreta num salão a poucos metros de seu gabinete no Palácio dos Bandeirant­es para anunciar os planos de construir uma nova faculdade de medicina da USP em Bauru. A obra ainda não tem prazo ou orçamento.

Com poucos prefeitos e aliados, a solenidade era diferente do que se viu no Bandeirant­es nas últimas semanas: anúncios de programas que devem constar nos planos de governo de França, que disputará a reeleição, com dezenas de prefeitos organizand­o-se em filas para receber a promessa de verbas para seus municípios.

O governador recebeu a Folha depois do evento em seu gabinete.

No sofá de sua sala, França comentava notar um desânimo geral no país que contaminav­a também a classe política. Disse que, não raro, costumava receber prefeitos que pensavam em renunciar. Ser associado a Geraldo Alckmin é bom negócio? Não faço as coisas porque é bom negócio, faço porque acredito. Para um país que está nessa situação, nessa dificuldad­e de aprovar reformas, se não tiver alguém com muita experiênci­a e tato, uma certa cancha, pode não aguentar. Muita gente vai fazer vida pública, fica um pouco e sai.

Como João Doria [PSDB]? É

um caso típico. Veja bem, me programo pra ficar quatro anos e fico um, passo a sensação de que tinha uma coisa mais atraente que essa. Há suspeitas de corrupção no governo estadual que se aproximam do sr. Em junho, o presidente da Cesp, Laurence Casagrande, foi preso. Não o afeta? Não. Todo mundo sabe as relações de onde vêm. O Laurence é tucano. Mas isso não é para me livrar dele, não —eu o tenho e o reputo como pessoa idônea. Apenas estou dizendo que ninguém o vincula diretament­e comigo, vinculam mais com o PSDB.

Ainda que o sr. o tenha mantido na presidênci­a da Cesp? Ele foi preso no cargo. Hoje, as pessoas têm a condição de prender antes de apurar. Quando você prende uma pessoa, sinceramen­te, já denegriu a imagem dela. Se quando acusa denigre, imagina prender. Espero que as denúncias sejam apuradas e, depois, haja a devida reparação. Vivi com muitos políticos e, no caso do Alckmin, ponho a minha mão, minha cabeça e meu filho no fogo de ponta a ponta. O sr. é alvo de ações do PSDB que o acusam de usar a máquina pública para se promover. Esperava essas ações tão fortes do partido? Não. Eu tenho sido tão leal com eles, com as coisas deles, que sinceramen­te não esperava.

O que se conta é que a ofensiva do PSDB contra o sr. teria feito o PSB paulista questionar o apoio a Alckmin ou ficar mais permeável a apoiar a aliança com Ciro Gomes [PDT]. Defendo e defendi que meu partido se aproximass­e da pessoa que acredito que seja a mais preparada para se tornar presidente [Alckmin]. Mas o PSDB, evidenteme­nte, tinha que dar contrapart­idas em alguns estados, que não precisaria ser necessaria­mente São Paulo. No Espírito Santo, Brasília, são lugares em que temos candidatos ao governo muito fortes. Mas como o PSDB é forte em todos os lugares, não abre mão em lugar nenhum. Existem vários PSDBs. O governador Alckmin vem falar aqui comigo constantem­ente. Ele tem muita preocupaçã­o com as coisas do governo. Ele tem vindo ao palácio? Tem. Quando foi a última vez? Duas semanas atrás. O sr. tem entre seus aliados outros pré-candidatos à Presidênci­a, como Alvaro Dias. Subirá no palanque com ele? Claro. Já fiz evento com ele. Assim como outros, se tiverem.

Ciro? Pode ser. Se o PDT estiver comigo, claro. O sr. disse que o PSDB deveria priorizar a candidatur­a de Alckmin. No seu partido, dizse que o PDT tem feito isso. É

um sinal melhor? Claro. É só você olhar os caminhos hoje. A questão de o PDT priorizar e abrir mão [de candidatur­as estaduais] em função do Ciro facilita a junção. No caso do meu partido, tem sido essencial. No Espírito Santo eles estão abrindo mão, em Pernambuco. Qual o argumento que uso para falar: olha, o PSDB não está abrindo mão para a gente em lugar nenhum, mas eu gostaria de apoiar o PSDB? Hoje o sr. é favorável ao apoio

do PSB a Ciro? Não, sou favorável ao Alckmin. Mas constato uma realidade: o PDT está propondo priorizar o Ciro.

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