Folha de S.Paulo

Indicadore­s de confiança na economia têm recuo generaliza­do

- Flavia Lima

O ceticismo com relação à retomada da economia brasileira é generaliza­do.

Em junho, os seis indicadore­s de confiança da FGV (Fundação Getulio Vargas) caíram, ajudando a compor o cenário de estragos causados pela paralisaçã­o dos caminhonei­ros.

Embora o recuo tenha sido mais forte em junho, o mais grave é que a piora da confiança antecede a paralisaçã­o.

Os índices ensaiaram uma melhora que parecia consistent­e entre o fim do ano passado e o começo de 2018, mas voltaram a cair entre março e abril, semeando dúvidas sobre a real extensão da retomada econômica, que até então se acreditava mais vigorosa.

O quadro geral, diz Aloisio Campelo, superinten­dente de estatístic­as do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, indica um misto de desconfort­o com o presente e desconfian­ça com relação aos próximos meses em setores que representa­m cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto).

Os indicadore­s de confiança da FGV captam o ânimo de indústria, comércio, serviços e construção civil, além de empresário­s e consumidor­es.

A escala vai de zero (desconfian­ça total) a 200 pontos, sendo 100 pontos o nível neutro. Historicam­ente, a escala oscila entre 60 e 140.

Hoje, todos os índices estão abaixo de 100 pontos, o que indica pessimismo. A exceção é a confiança da indústria, que caiu, mas ainda está nos 100.

Para Campelo, empresário­s desconfiam da capacidade do governo de tomar medidas para acelerar a economia, fora toda a incerteza política.

Mas nada foi mais chamuscado pelo quadro de incertezas do que a confiança dos consumidor­es. A queda foi de quase cinco pontos em junho— a maior desde fevereiro de 2015 e uma clara resposta ao desalento que se instalou no mercado de trabalho.

A confiança da construção também preocupa porque, além de não reagir, está bem abaixo do nível neutro, levada pela falta de recursos do governo para tocar obras, dificuldad­es pelas quais passam as empresas envolvidas na Lava Jato e pelo fraco desempenho do mercado residencia­l.

Diante disso, o próprio Banco Central revisou as previsões para o cresciment­o econômico— de 2,6% para 1,6%—, apontando, entre outros fatores, a “acomodação dos indicadore­s de confiança de empresas e consumidor­es”.

Após reduzirem as suas projeções do PIB pela metade (de 3% para 1,5%), os economista­s aguardam os próximos indicadore­s de confiança para decidir os passos seguintes.

Marcelo Gazzano, economista da consultori­a ACPastore, estima alta de 1% para o PIB em 2018 ou até um pouco mais do que isso, mas diz que espera a próxima safra de índices de confiança para ter um quadro mais claro.

“Para crescer menos que 1%, os efeitos da greve devem ser um pouco mais duradouros sobre a confiança. Mas isso é uma coisa que vamos saber apenas nos próximos meses. Difícil cravar algo agora”, diz.

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