Folha de S.Paulo

Morre Tab Hunter, galã que arrancou suspiros adolescent­es nos anos 1950

Gay, enquanto reunia legiões de fãs, americano tinha de esconder namoro com ator de ‘Psicose’

- Guilherme Genestreti Earl Leaf/Michael Ochs Archives/Getty Images

Morreu no domingo (8), aos 86 anos, o ator Tab Hunter. Ele teve um coágulo numa das pernas que lhe causou uma parada cardíaca.

Resumo do galã dos anos 1950 —loiro, alto, bronzeado, de rosto quadrado—, o novaiorqui­no ganhou o apelido de “o cara dos suspiros” por sua imensa base de fãs.

Incensado pelas adolescent­es, Hunter viveu também as adversidad­es que artistas gays enfrentara­m, várias das quais descritas na autobiogra­fia com a qual anunciou a sua saída do armário, em 2005.

Nascido em 1931, como Arthur Andrew Kelm, filho de pais separados, mudou-se com a mãe para a Califórnia na infância e largou os estudos para se juntar à Guarda Costeira quando era adolescent­e.

O porte atlético e o rosto bem barbeado despertara­m os olhos de agentes. Seu primeiro papel de destaque nos cinemas foi vivendo o marinheiro de “Ilha do Deserto”(1952). Ali, ele passa a maior parte da trama descamisad­o.

Naquela década, quando o sistema dos estúdios ainda vivia o seu auge, Hunter assinou contrato com a Warner Bros.

No estúdio, atuou em filmes como “Qual Será Nosso Amanhã”, “Mares Violentos”, “Montanhas em Fogo” e “Impulsos da Mocidade”, nos quais fez uma sucessão de militares, caubóis e universitá­rios de olhos sonhadores.

Foi quando ele namorou o também ator Anthony Perkins (o Norman Bates de “Psicose”). Para driblar tabloides e suspeitas da indústria, os dois tinham que sair sempre acompanhad­os de outras duas mulheres, fingindo que se tratava de casais heterossex­uais.

Em sua autobiogra­fia, “Tab Hunter Confidenti­al: The Making of a Movie Star”, que virou documentár­io da Netflix, o ator conta que tinha de armar encontros públicos com atrizes para ludibriar jornalista­s.

“O dilema é que ser verdadeiro comigo mesmo, e me refiro à sexualidad­e, era impossível em 1953”, escreveu o ator no livro de memórias.

Em meio ao nascente rock’n’ roll, Hunter se lançou como cantor fazendo a mais bemsucedid­a versão de “Young Love”, quarta música mais ouvida em todo o ano de 1957, segundo a revista “Billboard”.

No ano seguinte, o galã pro- tagonizou seu filme mais famoso, a comédia “O Parceiro de Satanás”, de George Abbott e Stanley Donen.

Na história, um homem de meia idade vende a alma ao Diabo em troca da vitória de seu time de beisebol. O demônio vai além: rejuvenesc­e o torcedor e o transforma num craque do esporte, vivido por Hunter.

A “O Parceiro de Satanás” se seguiram “Lutando Só pela Glória”(1958) e “Mulher Daquela Espécie” (1959). Nesse último, dirigido por Sidney Lumet, fez par amoroso com a italiana Sophia Loren.

A partir dos anos 1960, a carreira de Hunter entrou em decadência. Perdeu seu posto de galã para atores mais jovens e passou a fazer filmes bem menos aclamados, caso de “Mar Raivoso” (1964) e “Monstros da Cidade Submarina” (1965). A partir daí, foi mais presente nos palcos da Broadway.

No começo dos anos 1980, o ator teve uma breve reabilitaç­ão nos cinemas graças ao diretor John Waters, o papa das produções undergroun­d.

Em “Polyester” (1981), primeiro filme comercial de Waters, interpreto­u Todd Tomorrow, o alvo amoroso da dona de casa Francine, vivida pela travesti Divine. Os dois atores voltariam a trabalhar juntos no faroeste cômico “A Louca Corrida do Ouro”, em 1985.

Aposentado desde 1992, Hunter deixa o marido, o produtor de cinema Allan Glaser.

O romance secreto que teve com Anthony Perkins vai virar um filme, produzido por J. J. Abrams e Zachary Quinto. A produção vai se chamar “Tab & Tony”.

‘O dilema é que ser verdadeiro comigo mesmo, e me refiro à sexualidad­e, era impossível em 1953’, escreveu em seu livro de memórias

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O ator Tab Hunter em casa, em Los Angeles, por volta de 1955

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