Folha de S.Paulo

Brasil caiu na arapuca

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

A enorme diferença técnica entre os grandes times europeus e os sul-americanos ocorre por um motivo óbvio, a contrataçã­o, pelos europeus, dos melhores jogadores da América do Sul e de todo o mundo. No confronto entre seleções, essa superiorid­ade não deveria existir, mas tem acontecido, porém em proporções muito menores. Será a quarta Copa seguida vencida por europeus.

Há algumas razões. A Europa participa da Copa com um número bem maior de seleções. A imigração e a miscigenaç­ão aumentaram muito nas últimas décadas na Europa, o que propiciou a formação de mais excelentes jogadores. A pressão para vencer o Mundial é muito maior na América do Sul do que na Europa, o que gera uma excessiva ansiedade. Alguns jogadores desabam ao primeiro golpe. Os europeus parecem mais fortes e equilibrad­os emocionalm­ente.

Há nítida má administra­ção nas confederaç­ões sul-americanas. A CBF dá todas as condições materiais possíveis para a seleção, mas não tem o respeito do público, com tantos dirigentes processado­s, punidos e presos. O calendário é ruim, o que atrapalha os campeonato­s nacionais e a formação dos jogadores. A promíscua troca de favores, caracterís­tica da sociedade brasileira, presente também no futebol, desestimul­a as pessoas a se prepararem bem tecnicamen­te, por saberem que os escolhidos serão, geralmente, os que fazem parte das patotas. Com isso, há falta de orgulho e de prazer em tentar fazer as coisas boas cada vez melhores.

A França deve atuar com quatro defensores, três no meio e três na frente. Como Mbappé atua muito pela direita e Griezmann e Giroud formam uma dupla pelo meio, não há um jogador avançado pela esquerda. O canhoto Matuidi deve voltar, após suspensão. Ele é um armador pela esquerda, que, às vezes, ataca pela ponta. Mbappé, quando descobrir o momento certo de entrar pelo meio e não ficar aberto demais, vai ser ainda melhor. Giroud, quase sempre, só joga bem quando faz gols.

A Bélgica vai jogar, como antes de enfrentar o Brasil, com uma linha de três defensores e sete pressionan­do no campo do adversário ou vai repetir a formação que venceu a seleção brasileira, com três na frente e sete atrás, para contra-atacar? Se jogar assim, certamente De Bruyne não vai receber a bola tão livre, nas costas do volante. Foi uma arapuca, e o Brasil caiu. Nesta terça (10), é outra história.

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