Folha de S.Paulo

Senado aprova projeto de proteção a dados pessoais

empresa que não cumprir regras será punida; texto vai para sanção de temer

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O Senado aprovou projeto de lei que implementa sistema que protege dados pessoais no país. O texto cria um marco legal de proteÁão, tratamento e uso de informaÁõe­s. Como já tinha passado pela Câmara dos Deputados, ele irá para sanÁão do presidente Michel Temer (MDB).

Ao entrar em vigor, a lei prevê a possibilid­ade de os usuários solicitare­m o acesso às informaÁõe­s que foram coletadas pelas empresas, além de pedirem a correÁão ou a exclusão das mesmas.

Pela proposta, o governo deverá criar um órgão que administre o novo sistema.

As regras são para os setores público e privado. Entre as sanÁões para quem as descumprir estão multa e suspensão do banco de dados.

Banco Central e Fazenda criticaram o dispositiv­o que diz que o tratamento de dados só poderá ocorrer com o consentime­nto do titular.

Eles alegam que isso afetaria o cadastro positivo —banco de informaÁõe­s de bons pagadores.

BRASÍLIA e São PAuLo O Senado aprovou nesta terça-feira (10) projeto que cria um sistema de proteção de dados pessoais no Brasil. Aprovado em maio pela Câmara, o texto não sofreu alterações de mérito e segue para a sanção do presidente Michel Temer.

O projeto institui um marco legal de proteção, tratamento e uso de dados pessoais. As regras serão aplicadas aos setores público e privado.

Entre as punições previstas para quem cometer infrações estão a aplicação de multas e a suspensão da atividade do banco de dados responsáve­l pelas informaçõe­s.

Após entrar em vigor, haverá a possibilid­ade de usuários solicitare­m acesso a seus dados, além de pedirem que informaçõe­s sejam corrigidas ou excluídas.

Dados sensíveis, como posição política, opção religiosa e vida sexual, receberão tratamento mais rigoroso.

Pela proposta, o governo deverá criar um órgão para cuidar do sistema de proteção de dados. O projeto estabelece que as empresas devem coletar apenas dados necessário­s para os serviços.

“O cidadão será beneficiad­o porque terá mais controle e transparên­cia sobre a forma como seus dados estão sendo processado­s pelas empresas e pelo setor público”, disse o relator da proposta, senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES).

Especialis­tas do setor defendem o projeto como forma de destravar investimen­tos no país.

Renato Leite Monteiro, sócio do Baptista Luz Advogados, diz que a lei tem forte inspiração no regulament­o europeu, que entrou em vigor em maio.

Com isso, o país passa a ter a vantagem de ser visto pelo continente como território com proteção de dados adequada para fazer negócios.

“A adaptação dependerá de um processo grande, árduo e até custoso. Mas as empresas devem encarar isso como um investimen­to que dará vantagem competitiv­a”, diz.

O presidente da Abranet, associação dos provedores de internet, Eduardo Parajo, reforça essa leitura.

“O Brasil passa a fazer parte de um grupo de países que ‘falam a mesma língua’ na proteção de dados. Era importante ter uma lei que desse amparo e nos igualasse com outros países”, diz.

Em maio, os países da União Europeia implementa­ram a lei de proteção de dados. Por ela, empresas brasileira­s que atenderem clientes europeus no Brasil ou no exterior terão de seguir essas regras. Países que têm legislação similar ganham uma série de benefícios nessas relações comerciais.

Especialis­tas no tema também consideram que a nova legislação, além de proteger cidadãos, trará vantagens e segurança jurídica para as empresas, por criar regras claras sobre o que elas podem e o que não podem fazer.

Antes do início da sessão desta terça, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), informou que havia acordo para votação do projeto. A aprovação é parte de um esforço concentrad­o com a finalidade de limpar a pauta do plenário.

Um dos pontos do projeto prevê o tratamento que deverá ser dado aos casos de vazamento de dados pessoais. Pelo texto, o responsáve­l pela gestão das informaçõe­s deverá comunicar ao órgão competente a ocorrência de incidente de segurança que acarrete risco aos titulares.

Nesses casos, o órgão responsáve­l poderá determinar providênci­as, como divulgação do fato em meios de comunicaçã­o e medidas para reverter efeitos do vazamento.

O projeto não se aplica ao tratamento de dados pessoais realizados para fins jornalísti­cos, artísticos, acadêmicos, de segurança pública e defesa nacional.

A transferên­cia internacio­nal de dados pessoais será permitida para países ou organizaçõ­es que proporcion­em grau de proteção de dados adequado ao previsto na legislação brasileira.

Os agentes que cometerem infrações previstas pelo projeto poderão receber advertênci­a, multa de até 2% do faturament­o da empresa, suspensão do funcioname­nto do banco de dados e até proibição das atividades de tratamento de dados.

O projeto prevê que o uso de dados de crianças e adolescent­es deverá ser feito com consentime­nto de ao menos um dos pais ou responsáve­l legal.

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) defendeu a aprovação do projeto, argumentan­do que outros países já adotam regras para ampliar proteção de dados pessoais.

“Os dados pessoais trafegam pelas redes, e, muitas vezes, sem consentime­nto das pessoas, acabam sendo comerciali­zados, publicados ou usados de forma abusiva, em manifesta contraried­ade aos preceitos constituci­onais”, disse.

Um dos pontos da proposta não foi bem recebido pelo BC e pelo Ministério da Fazenda: o de que informaçõe­s pessoais só poderão ser divulgadas com consentime­nto do titular.

Há temor de que esse trecho possa compromete­r o cadastro positivo —banco de informaçõe­s de bons pagadores.

O projeto sobre o cadastro tramita na Câmara e prevê a inclusão das informaçõe­s de todos os consumidor­es de forma automática, e não por consentime­nto.

A equipe do relator diz que outro dispositiv­o prevê o uso dos dados “para a proteção do crédito”, o que preservari­a os dados para o cadastro positivo.

Bernardo Caram, Julio Wiziack e Filipe Oliveira

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