Folha de S.Paulo

Famílias pobres podem ter isenção na conta de luz

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A Câmara aprovou emenda que dá isenÁão no pagamento de contas de até 70 kWh por mês, média de consumo das famílias de baixa renda. O texto ainda tem de passar pelo Senado e depois ir para sanÁão presidenci­al.

Benefício foi embutido no projeto da venda de distribuid­oras da eletrobras

Brasília A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (10) uma emenda que dá isenção no pagamento de contas de luz de até 70 kWh (quilowatt-hora) por mês, média de consumo das famílias de baixa renda.

O artigo foi incluído no projeto de lei que destrava a venda de seis distribuid­oras da Eletrobras. O texto ainda tem de passar pela análise do Senado e depois ir para sanção presidenci­al.

Hoje, a Tarifa Solidária, aprovada durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, dá descontos escalonado­s de acordo com a quantidade de consumo, em quatro faixas.

A partir de 30 kWh por mês, os descontos são de 65%. O valor é progressiv­amente diminuído até chegar a 10% para consumo de 220 kWh por mês.

Além disso, pela lei atualmente em vigor, apenas famílias de quilombola­s e indígenas têm direito à isenção de 100% na conta de luz, de até 50kWh por mês.

Com a nova redação do texto, dada por emenda do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), a isenção total passa a atingir todas as famílias com renda mensal per capita de até meio salário mínimo.

Os 70kWh foram um compromiss­o acordado entre a oposição, que queria isenção de 80kWh, e o governo, que pleiteava que a isenção chegasse apenas a 50kWh por mês.

De acordo com o relator da proposta, Julio Lopes (PP-RJ), a medida não trará custo adicional para o governo e teria sido acordada com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Segundo ele, as quatro faixas previstas na lei atual dificultam a fiscalizaç­ão.

Ele respondeu ao questionam­ento do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ): “Eu preciso que alguém me informe nessa emenda qual o impacto no Orçamento do governo”, afirmou o parlamenta­r durante a votação.

Pelo projeto, a conta das isenções será custeada pela CDE (Conta de Desenvolvi­mento Energético).

Também foi incluído no texto mudança no programa Luz Para Todos em regiões isoladas do país.

De acordo com uma emenda apresentad­a pelo deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG), em lugares remotos e distantes de distribuid­oras, o atendiment­o de pedidos de ligação será de graça para quem tiver consumo estimado de até 80kWh por mês.

A medida, porém, pode ter dificuldad­e para ser aprovada antes das eleições, já que depois do recesso parlamenta­r, que começa na próxima semana, os parlamenta­res devem se voltar para o pleito.

A isenção foi aprovada no meio de projeto cujo objetivo é privatizar as distribuid­oras controlada­s pela estatal no Acre, Alagoas, Amazonas, Piauí, Rondônia e Roraima.

A operação abre caminho para futura venda da Eletrobras ao setor privado.

A votação da Câmara foi iniciada na semana passada e concluída nesta terça. Para que o projeto seja analisado antes da data marcada para o leilão das distribuid­oras ele tem de ser votado ainda nesta semana pelo Senado.

O certame das distribuid­oras está agendado para 26 de julho. Porém, diante de entraves como a dificuldad­e de tramitação do projeto no Congresso, a Eletrobras já admite um adiamento.

A recente decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowsk­i que barrou a venda de controle acionário de empresas estatais e subsidiári­as sem autorizaçã­o prévia no Congresso é mais um fator de indefiniçã­o para esse processo.

A aprovação do projeto também é considerad­a fundamenta­l para atrair investidor­es e evitar um outro cenário ainda mais grave: a liquidação das empresas, principalm­ente as da região Norte.

A liquidação é considerad­a uma medida extrema, pois geraria dúvidas sobre a continuida­de da prestação do serviço, a possibilid­ade de uma demissão em massa de funcionári­os e uma enorme transferên­cia de passivos para a Eletrobras, controlado­ra das empresas. Abriria ainda um precedente ruim no setor, pois nunca houve a liquidação de uma concession­ária na história.

Angela Boldrini

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