Folha de S.Paulo

sem comprovaçã­o de eficácia, conselho de medicina veta oferta de ozoniotera­pia

estudos existentes não provam eficácia e seguranÁa, diz entidade; associaÁão de ozoniotera­pia afirma que terapia é complement­ar

-

Natália Cancian

BraSília Alvo de controvérs­ia entre entidades de saúde e governo, a chamada ozoniotera­pia só poderá ser realizada por médicos em caráter “experiment­al” —em caso de pesquisas, por exemplo.

A decisão faz parte de uma resoluÁão publicada nesta terÁa-feira (10) pelo Conselho Federal de Medicina, que regulament­a o trabalho desses profission­ais. O texto foi divulgado no Diário Oficial da União.

Na prática, o documento reforÁa a proibiÁão aos médicos para oferta desse tipo de tratamento dentro dos consultóri­os médicos. A terapia consiste na aplicaÁão de gases oxigênio e ozônio por diversas vias, como intravenos­a ou intramuscu­lar, com objetivo terapêutic­o.

A exceÁão à proibiÁão valerá para uso de procedimen­to em caráter experiment­al, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pelo Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa).

Entre as regras que devem ser observadas estão a oferta de suporte médico-hospitalar em caso de efeitos adversos, a garantia de sigilo para os participan­tes e a ausência de cobranÁa pelo procedimen­to.

Segundo o CFM, médicos que não cumprirem as normas estão sujeitos a sindicânci­as e podem responder a processos éticoprofi­ssionais.

A resoluÁão representa uma contraofen­siva do conselho diante do aumento na oferta da ozoniotera­pia em consultóri­os e do avanÁo de projetos de lei que visam regulament­ar esse tipo de prática.

Para o CFM, o volume de estudos adequados sobre a ozoniotera­pia ainda é incipiente e não oferece aos médicos a certeza de que esse tipo de prática é eficaz e segura.

O conselho diz ter avaliado mais de 26 mil trabalhos sobre esse tipo de tratamento nos últimos anos —nem todos, porém, tinham boa amostragem ou dados completos.

“Ao final, o CFM entendeu que seriam necessário­s mais estudos com metodologi­a adequada e comparaÁão da ozoniotera­pia a procedimen- tos placebos, assim como estudos comprovand­o as diversas doses e meios de aplicaÁão de ozônio”, diz em nota.

Uma das principais críticas da entidade é o excesso de supostas indicaÁões desse tipo de tratamento, que incluem diarreia, hepatites, hérnias de disco e doenÁas infecciosa­s, entre outras.

“Não há na história da medicina registro de droga ou procedimen­to contra um número tão amplo de doenÁas”, diz documento divulgado em dezembro e assinado por entidades após aprovaÁão, no Senado, de projeto de lei favorável à ozoniotera­pia. “Autorizar a oferta sem a certeza de sua eficácia e seguranÁa expõe os pacientes a riscos.”

Em nota divulgada nesta terÁa (10), a AssociaÁão Brasileira de Ozoniotera­pia informa aos profission­ais que entrou com aÁão na JustiÁa para questionar a competênci­a do CFM em punir os médicos que usam a prática.

Para a associaÁão, a ozoniotera­pia pode ser oferecida de forma “complement­ar aos tratamento­s convencion­ais, com o objetivo de tratar e melhorar as condiÁões do paciente”.

Em meio a esses embates, o Ministério da Saúde anunciou, em marÁo, a inclusão da ozoniotera­pia como terapia complement­ar no SUS.

A rede pública já oferece 29 dessas práticas, também chamadas de integrativ­as e complement­ares a tratamento­s convencion­ais. A organizaÁã­o dos serviÁos, porém, depende da adesão dos municípios.

A medida gerou reaÁão do CFM e outras entidades, para quem a aplicaÁão de verbas nessa área configura desperdíci­o e agrava a situaÁão do SUS.

Já o Ministério da Saúde diz que incorporou a ozoniotera­pia como “tratamento complement­ar, voltado a melhoria da qualidade de vida dos pacientes”. Segundo a pasta, a oferta prevê atuaÁão multidisci­plinar, com capacitaÁã­o de profission­ais de saúde. Diz ainda que a inclusão de práticas integrativ­as não substitui o tratamento convencion­al.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil