Folha de S.Paulo

Isenção de Moro está em xeque, disse Favreto em 2017

- José Marques e Flávio Ferreira

SÃO PAULO O magistrado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que entrou em conflito com membros da corte ao conceder habeas corpus ao ex-presidente Lula no domingo (8), Rogério Favreto, considera a isenção do juiz Sergio Moro “em xeque” para julgar o petista.

A avaliação foi feita em entrevista à Folha em outubro do ano passado, quando Favreto também defendeu que um juiz deveria evitar que “anseio social” influencia­sse em julgamento­s de habeas corpus nos processos de grande repercussã­o, como é o de Lula.

Ele foi o único juiz da corte a votar a favor de abertura de processo disciplina­r contra Moro, em setembro de 2016, por ter divulgado o conteúdo de gravações telefônica­s entre os ex-presidente­s Lula e Dilma Rousseff.

Na entrevista, disse que se manifestou assim porque via que “um juiz que estava decidindo um caso que tinha envolvimen­to político muito forte” estava “participan­do de atividades com representa­ntes de partido que são opositores daquele governo”.

“Isso para mim tira bastante da sua isenção. Pelo menos coloca em xeque”, afirmou o juiz do TRF. “Deveria se abrir um processo para que houvesse a sua explicação e houvesse a apreciação. O que eu não concordei foi um puro e simples arquivamen­to [da ação].”

Moro foi procurado à época e disse que não se manifestar­ia sobre os comentário­s de Favreto.

O voto pela abertura do processo disciplina­r questionav­a a participaç­ão de Moro em evento do Lide, empresa ligada ao então candidato a prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).

Filiado ao PT por quase 20 anos, Favreto afirmou que sua militância era “de simpatia” ao partido e afirmou que ocupou apenas quadros da área jurídica em gestões petistas —acrescento­u que queria frisar isso porque “nesses tempos agora é muito fácil aumentar a confusão que está na sociedade”.

Advogado até 2010, ocupou postos na gestão Lula e também em administra­ções petistas em Porto Alegre. Em 2011, foi nomeado por Dilma para o TRF-4, escolhido em lista tríplice.

Apesar das relações com o PT, ele não se declarou impedido para julgar agora o caso Lula. Em outubro, disse: “Se um dia tiver [de julgar] um caso de alguma situação que eu tenha atuado ou que eu tenha alguma intimidade ou questão pessoal, serei o primeiro a me dar por suspeito”.

Mas ao ser questionad­o se faria isso ao analisar um processo relacionad­o ao partido, não respondeu. “Na medida em que houver algum processo eu vou examinar concretame­nte [se deve se considerar impedido], com toda a tranquilid­ade”, disse.

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