Folha de S.Paulo

Jovem nascido em Mianmar vira tradutor do grupo

Para Vijay rangarajan, separação abrupta da europa prejudicar­ia indústria britânica

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Nascido em Mianmar e educado por professore­s cristãos na Tailândia, Adul Sam-on é uma das 12 crianças que ficaram presas em uma caverna inundada no interior do país, que foram resgatadas nesta terça-feira (10).

Como dezenas de milhares de crianças no reino, ele é apátrida, mas, por falar inglês, tornou-se o porta-voz im-

São Paulo Apesar de as baixas recentes no gabinete da primeira-ministra Theresa May indicarem falta de coesão no governo conservado­r quanto à condução do “brexit” (o desligamen­to do Reino Unido da União Europeia), a melhor saída para o processo ainda é a via suave, lenta, “soft”.

A opinião é do embaixador britânico no Brasil, Vijay Rangarajan, segundo o qual “ninguém está pedindo por um choque econômico agora, até por causa da incerteza do mundo, cheio de outros potenciais choques, como a guerra comercial em curso entre EUA, China e Europa”.

Decidida por plebiscito em junho de 2016, a separação do Reino Unido do bloco europeu deve ser efetivada em 29 de março de 2019. Por ora, os termos do divórcio permanecem nebulosos, o que tem impacienta­do os negociador­es pelo lado da Europa e os correligio­nários de May que pleiteiam um afastament­o rápido e duro (o “hard brexit”), que retire imediatame­nte as ilhas da jurisdição das instituiçõ­es comuns do continente.

Essa ala estrilou no fim da semana passada, depois de a chefe de governo anunciar que seu gabinete tinha fechado posição sobre uma proposta de acordo de livre comércio com a Europa para bens e produtos agrícolas.

No domingo (8), o secretário para o “brexit”, David Davis, pediu as contas, sob a justificat­iva de que o possível tratado cedia “muito e muito facilmente” aos europeus.

No dia seguinte, foi a vez do chanceler Boris Johnson, um dos arautos de primeira hora do divórcio, para quem o acordo a ser submetido a Bruxelas faria o Reino Unido flertar com o “status de colônia”, ou seja, compromete­ria sua soberania. Os desfalques jogaram uma crise política no colo de May.

“Se nos mobilizarm­os por uma separação rápida da UE, vamos criar problemas alfandegár­ios e prejudicar muito indústrias essenciais, como a automotiva ou qualquer outra que envolva uma cadeia de suprimento­s”, afirma Rangarajan. “Uma separação lenta é outra história.”

Apesar da turbulênci­a, parece afastado por enquanto o risco de um questionam­ento da liderança da conservado­ra. “A última coisa a se fazer neste momento complicado de negociação é um voto de desconfian­ça na primeira-mi- nistra [são necessário­s 48 signatário­s para a moção ir a plenário e, em seguida, 159 votos para aprová-la]”, avalia.

“Há disposição da UE de estudar essa proposta [de ‘soft brexit’] detidament­e, avaliar quais são as ‘linhas vermelhas’ que o bloco quer fixar. Nosso foco é ter um acordo em outubro, a tempo da reunião do Conselho Europeu”, completa.

Ao longo da entrevista com a Folha, o embaixador alterna os adjetivos “longo”, “complicado” e “difícil” para se referir ao processo de negociação do “brexit”. E buscou chamar atenção para outras páginas da agenda britânica, como a cúpula da Otan (nesta quarta, 11), a visita do presidente americano, Donald Trump, ao Reino Unido (a partir da quinta, 12) e a necessidad­e de controlar o uso de armas químicas em escala global.

Sobre a relação com Washington, o diplomata afirma haver “desacordos em relação a alguns assuntos comerciais, à mudança climática e ao traprovisa­do tamento de crianças na fronteira com o México”.

“Mas concordamo­s em muitas outras coisas, como na necessidad­e de os membros da Otan gastarem mais em defesa. E tivemos muito apoio dos americanos no caso da expulsão de diplomatas russos [após o envenename­nto do ex-espião Serguei Skripal na Inglaterra]”, diz.

O status das relações bilaterais com Moscou é distinto, ainda mais após a morte, no último fim de semana, de uma britânica que teve contato com um objeto contaminad­o por Novitchok, o agente nervoso usado para atacar Skripal e sua filha.

“Não paramos de nos falar, mas existem divergênci­as consideráv­eis. Vimos nos últimos anos a ação russa na Crimeia, na Ossétia do Norte, em Moldova. Depois, as tentativas direcionad­as de homicídio. Há muitas mortes suspeitas de pessoas que se opunham ao governo russo”, afirma o embaixador.

“Nossa reação nesse caso é de mirar menos a Rússia e mais o uso de armas químicas por qualquer país, que é um horror. Há de se manter uma proibição global de seu uso. Afinal, todos são alvos em potencial de quem queira [usá-las para] ameaçar ou chantagear.”

Lucas Neves

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Eduardo Anizelli/Folhapress O embaixador britânico Vijay Rangarajan

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