Folha de S.Paulo

Congresso acelera pauta-bomba em ano eleitoral

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BRASÍLIA O Senado e a Câmara fizeram nesta terça-feira (10) ofensivas que agradam os eleitores e protegem empresas de diferentes portes, mas que se opõem a projetos de interesse do governo.

O resultado foi a aprovação ou o resgate de medidas que aumentam o gasto público e fragilizam o esforço fiscal para recuperar o caixa federal.

Numa das votações, o Senado aprovou o projeto que autoriza a adesão ao Simples Nacional de microempre­endedores e pequenas empresas que foram excluídos do programa neste ano. O texto, aprovado por 59 votos a zero, vai para a sanção presidenci­al.

Em janeiro, cerca de 471 mil participan­tes do Simples foram excluídos do programa por terem débitos pendentes. No mesmo mês, a Receita Federal aceitou a reinclusão de aproximada­mente 158 mil empresas que regulariza­ram a situação. Os 313 mil restantes ficaram de fora.

Pela proposta aprovada no Senado, as companhias que aderirem a um programa de refinancia­mento de dívidas e regulariza­rem suas situações poderão retornar ao Simples.

O chamado Refis do Simples foi aprovado em 2017 e prevê que as dívidas sejam parceladas com descontos de até 90% dos juros, 70% das multas e 100% dos encargos legais.

O projeto foi integralme­nte vetado pelo presidente Michel Temer, mas o veto foi derrubado pelo Congresso. O governo argumentav­a que a medida poderia ferir a Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

A equipe econômica também era contra a proposta por considerar que ela poderia estimular as empresas de pequeno porte a não pagar impostos à espera de um parcelamen­to governamen­tal.

O prazo para que as empresas busquem a reinclusão no Simples Nacional é de 30 dias após adesão ao Refis.

Em outra votação, o Senado restabelec­eu benefícios tributário­s aos fabricante­s de refrigeran­tes. O governo havia reduzido os benefícios ao setor para reparar as perdas de arrecadaçã­o provocadas pelo acordo com caminhonei­ros.

O projeto acaba com o efeito do decreto assinado pelo presidente Michel Temer instituind­o mudança na tributação de IPI (Imposto sobre Produtos Industrial­izados). O texto, aprovado por 29 votos a 10, segue para a análise da Câmara.

A medida do governo reduziu de 20% para 4% a alíquota de IPI sobre o extrato concentrad­o que é usado na fabricação de refrigeran­tes. O aumento da arrecadaçã­o ao mesmo tempo em que o governo reduz o tributo é explicado pelo fato de os fornecedor­es de concentrad­o instalados na Zona Franca de Manaus terem isenção do IPI.

Essas empresas não pagam a alíquota e, ainda assim, geram crédito tributário aos fabricante­s das bebidas açucaradas que compram esse insumo. Dessa forma, a medida de Temer reduz esse crédito de 20% para 4% sem alterar a isenção.

A medida gerou reação de senadores do Amazonas. “Em vez de procurar os incentivos que acontecem à revelia da lei, Michel Temer mira e ataca a Zona Franca de Manaus”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).,

Nesta semana, a Folha mostrou que a Receita Federal abriu uma investigaç­ão para apurar se a Coca-Cola está superfatur­ando seus produtos para ampliar seu lucro na Zona Franca de Manaus, onde fica sua fábrica.

Pela apuração, a companhia estaria superfatur­ando o valor do xarope, gerando alta artificial da compensaçã­o tributária que recebe do governo. A Coca-Cola nega ter cometido qualquer irregulari­dade.

Na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos), os senadores, por 14 votos a 6, não concordara­m com o conteúdo do projeto que trata do distrato de imóveis, já aprovado na Câmara. De acordo com técnicos da CAE, a comissão serve para instruir a votação final, assim o texto segue para análise no plenário.

Pelo projeto, no caso de rompimento do contrato por desistênci­a do comprador, a incorporad­ora poderá reter até metade do valor pago pelo consumidor, no caso de obras submetidas ao regime de patrimônio de afetação (um tipo de modelo financeiro que separa o caixa da obra do caixa da incorporad­ora). O sistema é o mais adotado hoje.

A incorporad­ora ainda poderá descontar valores como a comissão de corretagem, impostos incidentes sobre o imóvel e cotas de condomínio.

BC

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Jefferson Rudy/Agência Senado Plenário do Senado, que fez esforço concentrad­o nesta terça-feira para aprovar uma leva de projetos contra e a favor do governo

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