Folha de S.Paulo

Bia Doria terá de depor sobre luz para santuário de padre Marcelo

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São Paulo A ex-primeira-dama de São Paulo Bia Doria foi convocada pelo Ministério Público para depor nesta quarta-feira (11) em inquérito que apura se houve uso de recursos públicos na iluminação do santuário Theotokos, do padre Marcelo Rossi.

Bia é mulher do ex-prefeito da capital paulista e candidato ao governo paulista João Doria (PSDB).

O Ministério Público também convocou um representa­nte do santuário.

A investigaç­ão faz parte de um inquérito maior, que apura se houve pagamento de propina a funcionári­os do Ilume, o departamen­to de iluminação da prefeitura, na licitação da PPP (parceria público-privada) para renovar a iluminação pública da cidade.

O contrato, com validade de 20 anos, gira em torno de R$ 7 bilhões e é a maior PPP do mundo na área de iluminação pública.

A operação decorre de um escândalo que estourou em março, quando vieram a público gravações feitas por uma ex-funcionári­a do Ilume, Cristina Chaud Carvalho.

Nos áudios, Denise Abreu, ex-diretora do Ilume nomeada por João Doria, demonstrav­a preferênci­a por um dos consórcios na disputa pelo contrato da PPP.

O grupo preferido de Abreu, o consórcio FM Rodrigues/ Consladel, viria a vencer a licitação meses após as conversas gravadas.

O caso sobre o qual Bia Doria foi convocada para prestar esclarecim­entos envolve obras ou reformas de iluminação do santuário em 2017 pelo Ilume por meio da FM Rodrigues.

O santuário é citado em um email em que um ex-assessor de Abreu lista uma série de obras públicas que deveriam ser vistoriada­s.

A citação levantou suspeitas porque o santuário não é um espaço público e, portanto, não deveria ser alvo de ações da prefeitura de São Paulo.

Nas mais de 20 horas de gravações entregues pela ex-secretária Carvalho ao Ministério Público, há ainda um áudio no qual um dos ex-assessores de Abreu trata da troca das luminárias do santuário e do palco onde são celebradas as missas.

Em seu depoimento, Carvalho disse que Abreu foi ao santuário acompanhad­a de Bia Doria e apresentou uma fotografia da ex-primeira-dama, de Abreu e do padre juntos.

Carvalho não afirmou se Bia interferiu no serviço de troca das lâmpadas do santuário pela FM Rodrigues.

No depoimento, ela disse que Abreu “não media esforços” para se aproximar da exprimeira-dama.

A Promotoria do Patrimônio Público do Ministério Público trabalha com duas hipóteses nessa investigaç­ão: 1) a de que Abreu teria mandado o Ilume fazer o serviço no santuário para agradar Bia Doria; 2) a de que Bia Doria, seguidora do padre Marcelo, teria pedido o favor à prefeitura.

Advogado da família Doria, Fernando José da Costa diz que Bia foi convocada para falar como testemunha, mas não vai comparecer nesta quarta. Ele diz ter solicitado a postergaçã­o do depoimento porque a ex-primeira-dama está em viagem.

Segundo ele, o que aconteceu foi só um pedido feito pelo padre em uma conversa da qual Bia Doria participou com Denise Abreu no santuário.

“Houve uma reclamação de que a rua era escura e que isso estava gerando assaltos. Ela participou dessa conversa com a Denise, mas não acompanhou nenhum serviço prestado. Não fez nenhum pleito e não tem relação com o que foi feito”, diz Costa.

A assessoria do santuário afirma que não está a par do assunto.

Em nota, o Ilume informa que “não há registro de pagamento de obra de iluminação dentro ou no entorno” do santuário.

Procurado, o advogado de Abreu, Roberto Podval, não quis comentar. Ela foi demitida do cargo.

Joana Cunha e Mario Cesar Carvalho

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A ex-primeira-dama de São Paulo Bia Doria Ciça Neder 28.mar.18/Brazil Photo Press/Folhapress

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