Folha de S.Paulo

Nova regra atrasará universali­zação, diz Kelman

- Qual o impacto de acabar com o subsídio cruzado? Há locais onde os investimen­tos

são paulo Para o engenheiro Jerson Kelman, que até maio deste ano presidia a Sabesp (concession­ária de água e esgoto paulista), o novo marco regulatóri­o do saneamento publicado pelo governo federal deverá atrasar a universali­zaÁão do serviÁo.

Ele defende a ampliaÁão da participaÁ­ão das companhias privadas no setor, mas cobra medidas para que essas empresas também se responsabi­lizem pelos municípios sem infraestru­tura, e não apenas pelo “filé-mignon”.

Como o senhor enxerga o novo papel da ANA [Agência Nacional de Águas]? Há um problema de fragmentaÁ­ão da regulaÁão de saneamento no país. A MP tentou resolver isso com normas gerais feitas pela ANA. Não é absurdo, mas a agência vai ter de se capacitar, ela não tem hoje pessoal e conhecimen­to para isso. De fato, tinha de ter uma agência na esfera federal, que poderia até mesmo ser mais ambiciosa. Poderia ser uma agência que ficasse de “stand by”, e os municípios poderiam delegar a regulaÁão a ela.

Qual sua visão sobre o artigo que obriga a concorrênc­ia entre públicas e privadas? Sou contra, da maneira que está. A princípio, parece razoável. Mas é muito fácil para uma empresa privada escolher os bons municípios e fazer uma proposta melhor. É fácil porque não vai pagar pelos ativos que a concession­ária estadual construiu, que são investimen­tos milionário­s. Essa infraestru­tura retornaria ao município, que por sua vez teria de indenizar a empresa estadual. Mas os municípios, em geral, são devedores e só vão pagar daqui a 15, 20 anos. Para o prefeito atual, é um espetáculo: ele consegue uma empresa privada que vai reduzir a tarifa, mas a conta chega só na gestão do prefeito futuro.

Como isso poderia ter sido resolvido? A obrigaÁão de indenizar a companhia estadual poderia ser da nova concession­ária privada. Insisti para que fosse assim, mas não entrou. em estrutura já foram feitos, e outros onde não foram, essa é a grande diferenÁa. Se depender só de forÁas locais para investir, a tarifa fica muito alta. Vai cair a tarifa para os municípios superavitá­rios e vai subir para os deficitári­os, que ainda não têm a infraestru­tura completa e, em geral, são os mais pobres.

Então há risco de a regra atrasar a universali­zação? Sim, com certeza. Concordo com o pano de fundo da MP: é preciso atrair investimen­to privado. Não sou contra as licitaÁões, desde que seja possível organizá-las misturando o “filé-mignon” com o osso. Com quem vai ficar o osso? Com a estadual, que não pode dizer não ao município.

TH

 ?? Eduardo Anizelli - 30.mar.17/Folhapress ?? O engenheiro Jerson Kelman, que presidiu a Sabesp (companhia paulista de saneamento)
Eduardo Anizelli - 30.mar.17/Folhapress O engenheiro Jerson Kelman, que presidiu a Sabesp (companhia paulista de saneamento)

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