Folha de S.Paulo

Em reunião da OMS, Estados Unidos se opõem a resolução favorável ao aleitament­o materno

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Nova York e São Paulo Esperava-se que uma resoluÁão para encorajar o aleitament­o materno fosse fácil e rapidament­e aprovada por governos reunidos em Genebra, na SuíÁa, para Assembleia da OrganizaÁã­o Mundial da Saúde.

Baseada em décadas de pesquisa, a resoluÁão afirmava que o leite da mãe é o mais saudável para as crianÁas e que os países deveriam se esforÁar para limitar propaganda­s enganosas de substituto­s de leite materno.

Foi então que a delegaÁão dos EUA, em apoio a interesses de produtores de fórmula infantil, interrompe­u as deliberaÁõ­es.

Os oficiais americanos tentaram diminuir o alcance da resoluÁão buscando remover trechos que incentivav­am os governos a proteger, promover e apoiar o aleitament­o materno. BEnEFícios do alEitamEnt­o

• Oferece todos os nutrientes de que o bebê necessita e o protege contra doenças como diarreia e pneumonia

• Reduz chances de obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta

• Reduz risco de diabetes tipo 2, câncer de mama e ovário e de depressão pós-parto Também pediram a retirada de outra passagem que afirmava que os legislador­es deveriam restringir a promoÁão de produtos que especialis­tas apontam ser deletérios para crianÁas jovens.

Quando essas tentativas falharam, comeÁaram ameaÁas, segundo diplomatas e oficiais de governo participan­tes das discussões. O Equador, que planejava apresentar a resoluÁão, foi o primeiro alvo, com promessas americanas de medidas punitivas comerciais e retirada da ajuda militar que o país recebe. Os equatorian­os cederam.

Representa­ntes da área da saúde tentaram achar outra naÁão disposta a apresentar a resoluÁão. Mas pelo menos uma dúzia de países —a maior parte deles naÁões pobres da África e da América Latina— se recusaram, com medo de retaliaÁão. Por fim, os russos acabaram apresentan­do a resoluÁão.

Durante as deliberaÁõ­es, oficiais americanos chegaram a sugerir que os EUA deveria cortar a contribuiÁ­ão à OMS —o país, em 2017, foi responsáve­l por 15% (US$ 845 milhões, cerca de R$ 3,2 bilhões) do orÁamento da organizaÁã­o.

No fim, os americanos falharam em sua tentativa, consideran­do que a resoluÁão preservou a maior parte do seu texto original. Mas os EUA conseguira­m alterar a parte do documento que afirmava que a OMS proveria suporte técnico aos países que queriam enfrentar a promoÁão inapropria­da de comidas a crianÁas.

Em nota, a Sociedade Brasileira de Pediatria lamentou a posiÁão dos EUA. A atitude desconside­ra 40 anos de estudos que comprovam a importânci­a do aleitament­o na prevenÁão de doenÁas, diz a entidade.

Andrew Jacobs

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