Folha de S.Paulo

Tatuís, que lembram camarões gorduchos, são nacos de gostosura

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Meu amigo quer um jantar de aniversári­o. Nasceu e morou sempre perto do mar, pele torrada de sol, olhos vermelhos dos caldos, garganta apertada, corpo magro marchetado de areia dura das quedas, lábios rachados de sal, amigo dos peixes, das escamas, das conchas muito duras, da gelatina das ostras, das sereias.

Faria a minha mais alta homenagem, a lembrança marítima que tenho, afinal mar de Minas e São Paulo só fazem lembrar piabas, pois são rios. Faria os tatuís do Leme. Aqueles buracos na areia depois da onda, a correria, a gente enfiando a mão cega neles e o triunfo de conseguir mais um e guardar dentro de um boné.

Nem sei descrevê-lo, mas parece um tatuzinho branco, gorducho, do tamanho de um camarão. Lagostinha para comer com arroz, nacos de gostosura, mas é melhor esquecer, devem estar extintos e como está o Leme e quiçá o Rio.

Ainda bem que estaremos dosmaisfác­eis.Umlimão,uma em Paraty, na moda, comendo tigela da tal farinha e pinga o a paisagem, de preferênci­a suco nela até virar pirão, com barata, o que não é difícil uma gota de sal e nem precisa. aqui, a casa feita como extensão Acho que fujo da receita da casa de farinha. E farinha quando encho de salsa cortada feita em casa sem dúvida bem fininha, mas é bom para é o maior luxo. Ninguém imagina servir com qualquer peixe, a trabalheir­a que dá tanta mesmo que frito, acaba com a simplicida­de, solta, branca. gordura, faz um par perfeito.

O Hiltinho, faz tempo que Lá na entrada do sítio, na não o vejo, terá desistido do porteira, tem um barranco, restaurant­e? Ou eu que desisti montes de samambaias cheias de Paraty, das pedras das ruas,quedefinit­ivamentenã­osão de brotos. Será que merecem o epíteto de pancs? Porque estou para velhos? Ele me ensinou a fim de fazer coisa de moda. umacompanh­amentodepe­ixe Pego brotos mesmo, sem folha e é só passar na água fervente até perder o amargo e refogar. Sustentáve­l, panc, locavore, orgânico, está no ponto!

O peixe será o pescado no dia, não posso adivinhar antes. Mas é o segundo prato, peixe com pirão de farinha crua e samambaia refogadinh­a.

Paraty está frio, e podemos começar com caldo de fundo de rede, feito em vinho tinto e branco, que é bom pois se pode juntar sobras das garrafas. Tem que ser servido em xícara bonita, quase sem tempero. Caldo salgado demais é horrível.

Meu amigo gosta de sair logo da mesa e ir embora, mas posso tentar fazer algo de chocolate bem gosmento porque ele gosta e é aniversári­o, ou um sorvete de açaí com calda quente, ele adora açaí, preciso lembrar de levar a sorveteira. Mas desconfio que umas bananas fritas bastariam. Com açúcar e pouca canela.

E parabéns, Pablo, as coisas agora andam simples assim. Só que prometo fazer um desbunde de mesa, prometo.

PS: Os sucos você faz, Ângela, são seu forte.

-Nina Horta

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