Folha de S.Paulo

Em expansão no Rio, Troisgros aposta em restaurant­es de bairro

Chef francês e apresentad­or de programa na TV paga diz que o momento atual não é para alta gastronomi­a elitista

- -Marcos Nogueira

RIO DE JANEIRO O garoto Claude teve a chance de engolir o mundo sem deixar sua aldeia: Roanne, cidade francesa de 35 mil habitantes onde os Troisgros ergueram um bastião da alta gastronomi­a. Preferiu chutar o pau da barraca.

O jovem Claude, primogênit­o do venerado chef Pierre Troisgros, mudou-se de mala e cuia para o Leblon. Recomeçou do zero numa lojinha de galeria, com fogão e geladeira usados, mais um aparelho de ar-condiciona­do que não funcionava. O bistrô de 18 lugares se chamava Roanne.

Fez reputação e fama no Brasil. Investiu num estilo culinário que mescla ingredient­es tropicais com técnicas da academia francesa. Cozinhou para os poderosos locais e levantou o restaurant­e Olympe, onde teve a chance de se sentar no trono e gozar dos privilégio­s de um rei. Mas não.

O Claude maduro resolveu ser pop. Virou celebridad­e de TV, a despeito do sotaque. Transformo­u um problema — falas por vezes incompreen­síveis— em vantagem. É engraçado e carismátic­o e expandiu os negócios com restaurant­es de apelo fácil. Ensaiou a conquista dos “malls” do além-Gávea.Mudoudepla­nosdenovo.

O Claude sessentão desistiu de frufrus e salamalequ­es. Entregou ao filho Thomas a cozinha do Olympe (menu-degustação harmonizad­o com cinco pratos: R$ 590), adotou como aldeia o Leblon, bairro de 46 mil habitantes onde tinha o CT Boucherie, e inaugurou duas casas em 2018: Chez Claude, na galeria em que abriu o Roanne em 1982, e Le Blond.

Ele concentra as fichas num corredor de 950 metros do Le Blond, na avenida Ataulfo de Paiva (nº 1.321), ao Chez Claude, na rua Conde de Bernadotte (nº 26, lojas Q e R). Uma suave caminhada de 12 minutos que passa pelo CT Boucherie, na Dias Ferreira, nº 636.

Caminhar é uma palavra adequada para a fase atual de Troisgros. Suas novas casas são projetadas para atender ao público que mora no Leblon e em Ipanema. Gente que chega a pé para jantar.

“Alguém já reclamou que non tem manobriste?”, pergunta o chef a um funcionári­o que enxuga copos no bar do Le Blond. A resposta é negativa. E o local fica atrás de um ponto de ônibus, seria impossível estacionar um carro ali.

É uma aposta calculada. O setor de restaurant­es do Rio sofreu um baque com a crise econômica e a violência: o número de clientes caiu até 40% desde a Olimpíada, diz o sindicato patronal. No Rio, grande parte da população teme sair à noite, mesmo de táxi ou Uber.

Claude busca resgatar o cliente fugidio com distâncias caminhávei­s e uma culinária pedestre. “O momento non é parra alte gastronomi­e, mais e mais elitiste.” Seus restaurant­es no Leblon são pequenos e informais. Não são baratos, mas entregam a grife.

A sanha expansioni­sta segue comoChezBa­tista—nasmãos do fiel escudeiro e escada, o paraibano João Batista Barbosa de Souza— na loja contígua ao Chez Claude. Os passos seguintes não revela, até porque é uma metamorrfo­z ambuillant­e e pode mudar de ideia.

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Ricardo Borges/Folhapress Chef francês Claude Troigros em uma de suas casas no Leblon, Le Blond

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