Anistia para o estrago caminhoneiro
Tabelamento de fretes bagunça o campo, indústria protesta, Câmara anistia infrações do caminhonaço
Os tantos políticos, da direita à esquerda, e empresários
que deram corda para o cami
nhonaço têm algo a dizer sobre o estrago que ajudaram a promover? Pois o desastre continua.
Há desordem no transporte de insumos e produtos agropecuários (parabéns aos produ
tores de grãos que apoiaram
a mazorca). O tabelamento do
frete, além de contribuir para
a bagunça e a irracionalidade econômicas, já causa prejuízo
e vai parar na Justiça.
Nenhum político assumiria o
erro, claro, nem ao menos vai arriscar uns milhares de votos em uma crítica da conta que o
país parece não perceber que paga. Ao contrário. Premiam os responsáveis pelo tumulto.
Nesta quarta-feira (11), os deputados fizeram mais do
que chancelar a incompetência de Michel Temer, aprovando a medida provisória
que tabela o frete.
A Câmara ainda anistiou crimes e infrações cometidos du
rante o paradão caminhonei
ro, de multas por bloqueios de estrada a locautes, greve de
empresários. de uma emenda A cortesia do deputado veio Nelson Marquezelli (PTB-SP).
“Muitos manifestantes agiram pacificamente e de forma ordeira, e outros tantos ti
veram seus veículos bloquea
dos, mesmo contra sua vontade. Por essa razão, não se pode
punir ainda mais a tão sofrida classe dos caminhoneiros,
com pesadas multas previstas
na legislação ou decorrentes
de determinações judiciais”,
argumentou o nobre deputa
do ao justificar a sua emenda.
A medida provisória do
tabelamento ainda precisa ser aprovada pelo Senado, mas faz semanas eleva preços ou causa incerteza sobre os cus
tos de transporte; o fechamento de negócios atrasa ou se
arrasta. Preços de insumos e
cotações de produtos foram afetados. Grãos estão para
dos nos silos. Há atrasos na entrega de rações e fertilizan
tes, por exemplo, e rumores de
atraso no plantio da safra.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) diz que o prejuízo pode chegar a dezenas de bilhões de
reais. Claro, a alta de custos vai
chegar aos preços do varejo.
A indústria de São Paulo, representada pela Fiesp, diz também que terá custos adicionais, de acordo com pesquisa divulgada nesta quarta-feira, uma consulta com cerca de 400 empresas. Mais da metade delas pretende repassar o aumento do frete para o pre
ço de seus produtos. Na opini
ão de um quarto das firmas, o reajuste que deve provocar queda nas vendas.
É preciso relembrar sempre o tamanho dos vários estragos causados pelo caminho
naço na administração das
contas federais.
A redução da Cide e do PIS/ Cofins e o subsídio para o diesel devem custar até R$ 13,6 bilhões neste ano, segundo cálculos da equipe econômica de Temer.
O governo terá de cortar gastos para acomodar o favor,
que apenas em parte chega
rá ao caminhoneiro miúdo.
O subsídio se perderá pela cadeia de produção que depende do diesel e pelo comércio do combustível.
Como já se escreveu nestas colunas, os subsídios equivalem a 80% do que se vai gastar com o Bolsa Família ou com obras do governo federal (do PAC) no período em que vai valer o dito benefício, até o fim do ano.
O caminhonaço ainda serviu para degradar ainda
mais o clima político no país, contribuiu para alta de juros no mercado, apagou quase dois meses de produção, causou um choque de confiança e, enfim, derrubou a já magra expectativa de crescimento do país.
Sem se dar conta, o país segue no caminho da autodestruição.