Folha de S.Paulo

Celebração da educação

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Nesta semana vivemos dois importante­s acontecime­ntos, ambos relacionad­os à educação.

Um foi a situação dos estudantes presos, junto com seu professor, numa caverna na Tailândia e a concentraç­ão de esforços para resgatá-los.

O outro foi a presença de Malala Yousafzai no Brasil e sua participaç­ão num evento com inúmeros ativistas, entre mulheres e meninas que tentam ter sua voz ouvida para promover uma aprendizag­em significat­iva para todos.

Naturalmen­te, o segundo acontecime­nto parece ter maior vínculo com educação do que o primeiro, a não ser pela presença de alunos e de seu mestre.

Mas há consideraç­ões importante­s a se fazer: o professor levou, talvez correndo certo risco, os alunos do time de futebol para uma exploração que transcende sua área de ensino, como uma experiênci­a adicional de aprendizag­em, segundo foi reportado.

Além disso, a despeito do sofrimento dos meninos e de suas famílias, alguns avanços foram obtidos pela humanidade no esforço para resgatá-los. Certamente, aprendemos muito sobre empatia e solidaried­ade, duas atitudes e competênci­as que nos tornam humanos, em tempos de robotizaçã­o.

Aprendemos também como transmitir dados em áreas sem conectivid­ade, por meio de uma tecnologia israelense, e como transporta­r, de forma segura, pessoas não preparadas para mergulhar. Nos próximos dias, saberemos mais sobre os aprendizad­os dos próprios meninos.

A presença de um professor certamente impediu a possibilid­ade de um cenário distópico como o descrito na excelente obra do vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1983, William Golding, “O Senhor das Moscas”, em que processos violentos de dominação e exploração se desenvolve­m entre garotos náufragos, quando abandonado­s à própria sorte numa ilha.

No segundo episódio da semana, foi alentador ver, em transmissã­o pelas redes sociais, a jovem paquistane­sa, que teve que lutar pelo acesso de meninas à educação, falando sobre sua experiênci­a, que lhe trouxe ferimentos graves e risco de vida, mas também um Prêmio Nobel da Paz e fundos que lhe permitiram investir na sua causa no mundo todo.

No entanto, ela também ouviu muito sobre as lutas vividas no Brasil pelo acesso de todos a ensino de qualidade, num evento que celebrou a educação de forma única.

Nos dois acontecime­ntos, a dor e a possibilid­ade de vitória se combinaram, revelando o potencial da educação mesmo quando tudo mais parecia perdido. Quem sabe, além disso, que o aprendizad­o de empatia apareça também a cada barco de imigrantes que fica à deriva, afinal não podemos perder nenhuma criança, nenhum jovem, nenhuma Malala!

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