Folha de S.Paulo

Fazenda estima que TCU possa conter farra fiscal

- Flavia Lima

Uma dobradinha entre Ministério da Fazenda e TCU (Tribunal de Contas da União) pode reverter a farra fiscal aprovada pelo Congresso Nacional, afirma um integrante da equipe econômica.

Como uma espécie de lembrete aos congressis­tas mais afoitos com a possibilid­ade de elevar gastos, essa fonte lembra que a linha de crédito para estados e municípios pagarem precatório­s chegou a ser aprovada no fim do ano passado, mas até hoje espera para ser implementa­da.

A leitura é que uma posição mais dura adotada pelo TCU de uns anos para cá tem ajudado a dar tranquilid­ade à equipe para dizer não a essas tentativas de aprovar aumentos de gastos sem receita correspond­ente.

Se algo desse tipo for aprovado pelo Congresso, afirma, o tribunal será acionado para exigir a compensaçã­o do impacto financeiro.

Entre os membros da equipe econômica há ainda a percepção de que o tempo corre a favor da contenção de gastos, uma vez que boa parte das medidas não deve ser aprovada antes das eleições.

Além disso há a leitura de que o próximo governo pode ser um aliado importante a partir de outubro, pois uma parte expressiva do impacto fiscal ficará para os próximos anos, portanto na conta de quem for eleito em outubro.

O discurso é que isso poderia aumentar muito o custo do ajuste fiscal, o que significar­ia, por exemplo, uma alta da carga tributária —possibilid­ade sempre lembrada, em especial quando o objetivo é arregiment­ar apoio contra mais gastos fiscais.

Um último ponto lembrado por um integrante da equipe econômica é um artigo da emenda 95, a do teto de gastos, segundo a qual “a proposição legislativ­a que crie ou altere despesa obrigatóri­a ou renúncia de receita deverá ser acompanhad­a da estimativa do seu impacto orçamentár­io e financeiro”.

A maior parte das medidas já aprovadas no Congresso não está respeitand­o o artigo, diz essa fonte.

Se a equipe econômica vai mesmo conseguir barrar todas as proposiçõe­s de um Congresso que, em ano eleitoral, parece ter se esquecido de eventual compromiss­o com a responsabi­lidade fiscal, não se sabe.

Para alguns especialis­tas, no entanto, embora seja inegável o risco fiscal que representa boa parte das medidas, o perigo alardeado pode estar superdimen­sionado.

A controvérs­ia maior repousa sobre os cerca de R$ 40 bilhões referentes à Lei Kandir —a compensaçã­o aos estados pela desoneraçã­o do ICMS nas exportaçõe­s.

A compensaçã­o é considerad­a uma ameaça às contas públicas, mas não necessaria­mente uma pauta-bomba, uma vez que todo ano há discussões em torno do valor devido pela União aos estados, e essa indefiniçã­o, dizem economista­s, acaba sendo usado como barganha política.

Mais sensato seria encomendar um estudo a um dos órgãos técnicos ligados ao governo que apontasse o resultado líquido das desoneraçõ­es e se realmente há algum valor a recompor.

Também não é possível ser encarada como pauta-bomba —no sentido de uma estratégia que pega o governo de surpresa, sem negociação— a migração de servidores de ex-território­s, como Roraima, Rondônia e Amapá, para o quadro federal.

A medida foi resultado de MP (medida provisória) do próprio governo federal.

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