Folha de S.Paulo

Economista­s ainda projetam uma retomada

Atividade produtiva e consumo têm condições de engrenar cresciment­o nos próximos meses, avaliam os analistas

- (FL, JC e AF)

Após a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, evento que praticamen­te retirou do calendário dez dias úteis de 2018, os economista­s se dividem quando à duração de seus efeitos.

Embora as projeções de cresciment­o para o PIB (Produto Interno Bruto) não cheguem a 2%, alguns analistas avaliam que as perdas de maio e junho devem ser recuperada­s nos meses seguintes à paralisaçã­o, enquanto outros se mostram mais céticos.

“Maio de fato apareceu como uma bomba na atividade do trimestre, afetando expectativ­as, especialme­nte das empresas, que postergam investimen­tos quando acontece tal tipo de evento”, diz Sergio Vale, economista-chefe da consultori­a MB Associados.

Apesar disso, Vale mantém a expectativ­a de alta de 1,9% para o PIB deste ano, pois avalia que junho e julho parecem apresentar números que voltam à normalidad­e.

“Os dados diários que acompanham­os de julho parecem mostrar um cresciment­o menor do que vínhamos tendo antes, mas ainda assim um cresciment­o”, diz.

Ele vê outros elementos potencialm­ente positivos para a atividade econômica, como a devolução do recursos do PIS/Pasep e das perdas dos planos econômicos, assim como foi o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) no ano passado.

“Isso deve dar em torno de R$ 50 bilhões em um momento em que parcela da população já conseguiu em parte se reequilibr­ar”, diz Vale.

Maurício Oreng, economista-chefe do Rabobank, também avalia que os indicadore­s devem registrar uma recuperaçã­o em junho, embora questione a dimensão da retomada. Para ele, é preciso entender a magnitude da reação e dos efeitos da queda da confiança, da incerteza política e da piora das condições financeira­s sobre a atividade no segundo semestre.

“Por ora, ainda estou trabalhand­o com PIB de 1,6% com viés de baixa. Acho que a situação ainda está um pouco nebulosa”, diz Oreng.

Para Fábio Silveira, economista da consultori­a MacroSecto­r, o varejo teve um desempenho acima do esperado em maio, a despeito da paralisaçã­o. “Acho que o país ainda cresce 1,3% em 2018”, afirma.

Mais pessimista, Luís Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimen­tos, reduziu a projeção do PIB de 2018 pela metade, de um cresciment­o de 2% para uma alta de 1%.

Segundo Lima, o protesto dos caminhonei­ros foi fundamenta­l para a revisão. Além disso, a escalada da guerra comercial travada pelo presidente americano Donald Trump contra a China pode abalar o setor da economia que puxou o cresciment­o em 2017 e ainda vai bem: o agronegóci­o.

“Não vemos motivos para otimismo. O consumo está muito retraído, a confiança das famílias está em queda, o mercado de trabalho não reage e o crédito está muito fraco. Fora que o ajuste fiscal impede qualquer sonho de retomada do investimen­to público”, diz Lima.

Além dos efeitos diretos sobre a atividade econômica, a paralisaçã­o deve sair cara aos cofres públicos.

A redução no preço do diesel garantida pelo governo para que os caminhonei­ros encerrasse­m a paralisaçã­o de maio custará R$ 13,5 bilhões aos cofres públicos. E o “custo” da manifestaç­ão pode aumentar significat­ivamente se o novo marco regulatóri­o das transporta­doras, aprovado na Câmara, avançar no Congresso —a previsão é de impacto de R$ 27 bilhões até 2021.

Em acordo com a categoria, o governo Temer se compromete­u com queda de R$ 0,46 por litro nas bombas por 60 dias. Para isso, concedeu subsídio de R$ 0,30 aos produtores e cortou R$ 0,16 em impostos.

Já o projeto que beneficia transporta­doras prevê que elas possam retirar da base de cálculo de impostos uma parcela dos seus custos operaciona­is.

As empresas que aderirem a um plano de renovação de frota serão isentas de PIS/Cofins e IPI na compra de caminhões. O valor pago em pedágios pelas empresas ainda poderia ser abatido do Imposto de Renda. A previsão é que os benefícios tenham um impacto de R$ 9 bilhões por ano.

Do lado dos caminhonei­ros, a redução no valor do diesel, a principal reivindica­ção do grupo no início da paralisaçã­o, não chegou a todos os postos, diz Wallace Landim, o Chorão, que liderou manifestaç­ões durante a paralisaçã­o.

Chorão destaca a aprovação no Congresso da medida provisória que estabelece preços mínimos para o frete, cujo texto segue para sanção presidenci­al.

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) estima que o tabelament­o do frete deverá gerar gastos adicionais de R$ 3,3 bilhões à indústria paulista entre junho e dezembro.

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