Folha de S.Paulo

‘PT pode considerar nome de Ciro’, diz governador de MG

Pré-candidato à reeleição, governador de MG culpa Temer por crise no estado, mas, de olho em apoio, diz que MDB local é diferente

- Carolina Linhares

Cercado por crise, Fernando Pimentel (PT) aposta na vitória de presidenci­ável de esquerda para melhorar a situação de MG. Sem Lula, avaliaqueo­PTpodeapoi­ar Ciro Gomes (PDT).

belo horizonte Cercado por uma profunda crise fiscal e por denúncias de corrupção, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), aposta na vitória de um presidenci­ável de esquerda para melhorar a situação do estado, que pretende administra­r por mais quatro anos. Seu principal adversário será o exgovernad­or Antonio Anastasia (PSDB).

Se o registro da candidatur­a do ex-presidente Lula (PT) não for aceito, Pimentel avalia que seu partido deve considerar apoiar Ciro Gomes (PDT).

O sr. tem sido alvo por atrasos de repasses às prefeitura­s e de salários. Como resolver?

Não temos tido apoio do governo federal para nada. O estado está numa situação de completo desequilíb­rio orçamentár­io. O grande problema é a Previdênci­a pública. Sem ela, teríamos superávit de R$ 7 bilhões no ano passado. Com ela, há déficit de R$ 9 bilhões. Agora, falar que cortar despesa equilibra as contas... O candidato que disser isso não está falando a verdade.

Quais medidas o sr. tomou?

Estamos tomando. Só não tomamos mais porque a gente não consegue avançar com o governo, esse desastre chamado Michel Temer [MDB]. Fomos vítimas de um cerco brutal do governo. Estamos tendo que enfrentar esse déficit com os recursos disponívei­s. E aí sou obrigado a parcelar salários.

O sr. tenta empréstimo­s via estatais e é travado na Justiça ou na Assembleia. Vai insistir?

Temos que insistir na estratégia de obter recursos extraordin­ários, que são legais.

O sr. diz que reduzir gastos não é suficiente, mas já recebeu

dois alertas do Tribunal de Contas de que ultrapasso­u limites da Lei de Responsabi­lidade Fiscal. Não cabe cortar despesas?

Como reduzir a despesa com pessoal? Queria que o TCE dissesse. Alguém demagogica­mente pode dizer para extinguir cargos de confiança, cujo gasto é de R$ 17 milhões ao mês. A folha é de R$ 2,4 bilhões. Quando vejo pré-candidatos fazendo esse tipo de afirmação, me dá pena.

Mais quatro anos de Pimentel são mais quatro anos de salário atrasado?

Não, porque vamos conseguir receitas extraordin­árias. Dia 31 de dezembro acaba o pesadelo Temer. Tenho certeza que o resultado da eleição tenderá para para o campo democrátic­o-popular, que é onde eu me situo.

A três meses da eleição, o sr. não tem alianças definidas. Há isolamento?

Temos o PC do B, estamos em negociação avançada com PR, PV. Eu não me surpreende­ria se o MDB fizesse aliança conosco apesar desses últimos desentendi­mentos. O MDB de Minas não é do Temer, sã odo nosso campo.

Já definiu vice?

Tenho carinho extraordin­ário pela Jô Moraes [PC do B], mas eu sei que ela quer o Senado. O MDB tem grandes nomes, o deputado Adalclever Lopes, presidente da Assembleia, é um nome qualificad­o para qualquer cargo. O PR tem o filho do Zé Alencar, o Josué, nosso amigo.

Houve boatos de que Dilma ou Josué disputaria­m em seu lugar. É medo que eles têm de que eu seja candidato. Tenho uma notícia ruim para dar a eles: eu sou o candidato. E serei muito competitiv­o. Temos um governo que está mantendo o estado funcionand­o.

Como avalia o pedido de impeachmen­t contra o sr. aceito na Assembleia?

É um incidente da vida parlamenta­r.

O sr. conversou com o presidente Adalclever sobre isso?

Não, aqui em Minas Gerais a gente não fala de assuntos polêmicos, a gente conversa de coisas mais amenas.

Teve algum acordo para o impeachmen­t não avançar?

Não, acho que parou porque não tinha objeto. Se fosse levado a voto, seria derrotado.

Se continuar governador, apautada Assembleia vai continuar trancada?

A oposição fi camais valente na época das eleições, depois ela costuma aquietar.

A vinda da ex-presidente Dilma para disputar o Senado atrapalhou a aliança com o MDB?

Foi uma surpresa. Em um primeiro momento provocou um certo abalo nas conversas, mas logo se acomodou. Ela está muito bem nas pesquisas e vai nos ajudar. Essa é uma eleição de lado: os que estão com Lula, preocupado­s em recuperar o modelo distributi­vista, e outro lado dos golpistas, contra o direito dos trabalhado­res.

O senador Aécio Neves (PSDB) está fragilizad­o em Minas, como vê isso?

Cada um responde pelo seu problema. Deixa as dificuldad­es deles lá com eles.

O sr. concorda em manter a candidatur­a do Lula a todo custo?

Eu não sei se ele está condenado, não transitou em julgado. Se há um questionam­ento, ele tem direito de registrar a candidatur­a.

O STF já interpreto­u a Constituiç­ão para adiantar a prisão. Disse, e acho até que não deveria ter dito, que pode começar a cumprir pena a partir da segunda instância. E como a presidente Cármen Lúcia ainda não pautou a discussão de mérito, isso não está definido. Acredito que o Supremo não fará —agora vou cometer um uma ousadia— essa barbaridad­e.

O sr. é contra escolher um plano B?

Não está na hora disso. Se Lula for impedido, lá na frente, vamos ver o que fazer. Essa eleição vai ter um candidato com apoio explícito de Lula e acho que será eleito. Já tem a Manuela D’Ávila (PC do B), o Guilherme Boulos (PSOL), o Ciro Gomes (PDT). Pode ser que tenha mais um ou pode ser que um desses seja apoiado pelo presidente Lula.

Ciro diz que é difícil que o PT o apoie, mas o sr. diz que isso pode acontecer. É meu amigo e um quadro político fundamenta­l hoje. Se ele vai ter ou não o apoio do PT, a discussão não chegou nesse momento ainda. Lá na frente, se isso tiver posto, tenho certeza que o nome dele pode ser considerad­o.

O sr. é acusado na Operação Acrônimo por corrupção e caixa dois. Hoje são cinco denúncias, uma aceita. Como responde?

Pode até ser que sejam mais. Aquilo é uma armação do começo ao fim contra mim. Tudo ilegal, cheio de irregulari­dades. Depois de três anos e meio de investigaç­ão acintosa, arbitrária e perversa não tem nada contra mim. Temos depoimento­s, inclusive de membros da Polícia Federal, dizendo claramente a armação que havia lá dentro.

O fato de os processos terem descido para a primeira instância é bom ou ruim?

Me dá o mesmo direito que qualquer outro cidadão brasileiro tem. Não tem benefício. O [Sergio] Moro está trucidando o presidente Lula e é juiz de primeira instância.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil