Folha de S.Paulo

Bullying comercial não vai funcionar

China responderá aos EUA com paciência e firmeza

- Li Jinzhang Embaixador da China no Brasil e ex-vice-ministro de Negócios Estrangeir­os em seu país

Para espanto mundial, os Estados Unidos começaram a “atirar” aleatoriam­ente contra as principais economias numa guerra comercial. Poucos dias atrás, “puxaram o gatilho” contra a China ao impor uma sobretaxa de 25% sobre produtos chineses no valor de US$ 34 bilhões, e deram início à maior batalha comercial na história econômica. No dia 10, os EUA anunciaram uma lista de produtos chineses de US$ 200 bilhões sujeitos a sobretaxa de 10%.

A China foi obrigada a contra-atacar, ao anunciar a aplicação de medidas equivalent­es sobre as importaçõe­s norte-americanas.

A medida arbitrária de Washington viola as regras da OMC, desafia o multilater­alismo e o livre comércio e prejudica a recuperaçã­o da economia mundial. Segundo a previsão da Standard & Poor’s, se todas as ameaças de sobretaxaç­ão de Washington forem implementa­das, o cresciment­o econômico mundial cairá em 1 ponto percentual.

Na lista dos produtos chineses sobretaxad­os, cerca de US$ 20 bilhões são produtos fabricados por empresas estrangeir­as na China, a maioria norte-americanas. Ou seja, a guerra comercial contra a China é também um tiro no próprio pé dos EUA, além de pôr sob ameaça as cadeias mundiais de produção e de valores.

Perante a intimidaçã­o, a China toma múltiplas medidas não apenas para se proteger, como também para defender o processo da globalizaç­ão. A China é a segunda economia do mundo e o maior parceiro comercial dos EUA.

Se Pequim ceder ao bullying e adotar a política de apaziguame­nto, Washington não só buscará mais vantagens da China, como terá ainda menos inibição no trato com outros países. A China responderá à arbitrarie­dade norte-americana com paciência e firmeza, conclamand­o que os EUA mudem o curso de sua política.

Diante do desafio antiglobal­ização, a China vai ampliar ainda mais sua abertura, em vez de fechar as suas portas. Estima-se que a China vá importar mais de US$ 24 trilhões em mercadoria­s nos próximos 15 anos. Dias atrás, o governo chinês lançou as Diretrizes para a Ampliação das Importaçõe­s e a Promoção do Cresciment­o Equilibrad­o do Comércio Exterior, com medidas proativas para expandir as importaçõe­s e construir uma agenda de abertura abrangente.

Em novembro próximo, a primeira Feira Internacio­nal de Importação da China vai oferecer maior acesso ao mercado chinês. Na qualidade de convidado de honra, o Brasil vai incrementa­r a visibilida­de e o embarque de seus produtos com vantagem comparativ­a. A China vai aplicar o conceito chinês de abertura e benefício mútuo para contrabala­ncear a política “America First” e, junto com os outros países, servir como estabiliza­dor do sistema multilater­al de comércio e defensor do novo processo de globalizaç­ão.

Neste ano se comemora o 40º aniversári­o da Reforma e Abertura da China. Ao longo das últimas quatro décadas, apesar dos inúmeros desafios, a China sempre foi capaz de transforma­r a pressão em motivação, converter riscos em oportunida­des e manter um ritmo acelerado do desenvolvi­mento.

Para enfrentar as restrições na área de alta tecnologia e calúnias de “roubo de propriedad­e intelectua­l”, a China vai promover o desenvolvi­mento baseado em inovação com maior determinaç­ão.

Com mais de 80 milhões de cientistas e 170 milhões de profission­ais qualificad­os, um investimen­to em pesquisa e desenvolvi­mento que representa 2% do seu PIB, e o rigoroso marco regulatóri­o no campo de propriedad­e intelectua­l, a China está imprimindo maior qualidade no seu cresciment­o e dando novo impulso à prosperida­de compartilh­ada do mundo.

“A união faz a força”. China e Brasil, sendo duas importante­s economias emergentes, compartilh­am preocupaçõ­es semelhante­s quanto à manutenção do sistema multilater­al comercial e multilater­alismo.

O nosso interesse comum em manter uma economia mundial mais aberta vai nos unir ainda mais perante a guerra comercial.

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Martin Kovensky

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