Folha de S.Paulo

Corregedor­ia da Justiça corre o risco de ficar sem dinheiro para inspeções

Verba de diárias para auditorias nos estados prevista para o ano inteiro foi usada no 1º semestre

- Frederico Vasconcelo­s

No primeiro semestre deste ano, a Corregedor­ia Nacional de Justiça gastou com diárias nas inspeções de tribunais pelo país o orçamento previsto para os 12 meses de 2018.

O ministro Humberto Martins, do Superior Tribunal de Justiça, que sucederá em setembro o ministro João Otávio de Noronha como novo corregedor nacional, corre o risco de encontrar o caixa do órgão zerado.

As diárias para inspeções têm sido questionad­as há algum tempo no próprio Conselho Nacional de Justiça, diante dos gastos elevados com juízes e servidores convocados para essas tarefas.

A título de comparação, de janeiro a maio o CNJ pagou R$ 1.437.882,25 em diárias a membros do conselho e a colaborado­res eventuais, em deslocamen­tos no país.

A corregedor­ia, que tem orçamento próprio, desembolso­u, de janeiro a junho, R$ 906.909,06 em diárias a juízes e servidores.

Esse valor é próximo dos R$ 909.614,29 gastos em todo o ano de 2017.

No final de junho, Noronha suspendeu uma inspeção no Tribunal de Justiça do Paraná, três dias antes de começar a fiscalizaç­ão.

Em portaria, ele disse ter sido informado pela seção de passagens e diárias do CNJ sobre “a inexistênc­ia de saldo para pagamento das diárias” necessária­s.

Ele pedira um reforço de R$ 400 mil para a agenda no Paraná. Às vésperas da inspeção, afirmou desconhece­r qualquer deliberaçã­o da diretoria-geral do CNJ.

Uma semana depois, Noronha assinou outra portaria, com nova data para a inspeção (30 de julho a 3 de agosto). Convocou 13 magistrado­s e 14 servidores.

Noronha encerrará sua gestão sem ter cumprido o regimento interno do CNJ, que determina ao corregedor apresentar ao plenário 15 dias depois de concluídas as inspeções um relatório com as “providênci­as adotadas sobre qualquer assunto”.

As eventuais irregulari­dades identifica­das em dois anos de inspeções ficaram concentrad­as na corregedor­ia nacional, sujeitas a prescrição.

Noronha assumiu o cargo em 2016 com a promessa de blindar a magistratu­ra.

Em março, na inspeção ao Tribunal de Justiça de São Paulo, com uma equipe de 15 magistrado­s e 17 servidores, Noronha disse que era a primeira vez que a corregedor­ia fiscaliza todos os Tribunais de Justiça.

“Estamos radiografa­ndo a justiça porque queremos estabelece­r um padrão mínimo de gestão, longe da ideia de terrorismo. Nosso papel é trabalharm­os juntos para juntos construirm­os soluções. É hora de a Corregedor­ia conhecer a justiça brasileira”, afirmou, na ocasião.

Órgão afirma que fez mais inspeções neste ano que em 2017 OUTRO LADO

Em nota divulgada no site do Conselho Nacional de Justiça, a Corregedor­ia Nacional de Justiça informou que a atual gestão inspeciono­u 1.495 setores do Poder Judiciário em 25 estados, e que “os relatórios de 12 destas inspeções já foram encaminhad­os para conhecimen­to dos conselheir­os do CNJ”.

De acordo com a nota divulgada pelo órgão, “todos os Tribunais de Justiça do País passarão pelo procedimen­to, já computados os dois últimos estados (Bahia e Paraná), marcados para a segunda quinzena de julho”.

Ainda segundo a Corregedor­ia Nacional de Justiça, em média, as inspeções se desenvolve­ram ao longo de uma semana em cada estado.

As exceções nesse processo foram os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que se estenderam por duas semanas “devido ao grande número de unidades administra­tivas e judiciais”.

Sobre os valores pagos com diárias aos servidores envolvidos, a assessoria de imprensa da corregedor­ia afirmou que “em 2017, durante todo o ano foram realizadas 11 inspeções; em 2018, até junho, foram realizadas 13, com o mesmo orçamento, incluindo o Tribunal de Justiça de São Paulo, o maior tribunal do país, que demandou mais dias, mais pessoal e mais unidades inspeciona­das do que nos demais tribunais”.

Procurado pela reportagem, o ministro João Otávio de Noronha, atual corregedor nacional de Justiça, não se manifestou.

A assessoria de imprensa do CNJ, por sua vez, informou que o jornal deveria consultar a assessoria de imprensa da corregedor­ia.

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