Folha de S.Paulo

Varrição e gastos encolhem, e zeladoria ainda patina após cem dias sob Covas

Prioridade elencada desde Doria não decola; prefeitura cita fiscalizaç­ão e combate a lixo nas ruas

- Artur Rodrigues

A aposentada Marise Rodrigues do Amorim, 61, se cansou de apenas observar a enorme pilha de lixo que se acumulava na sua porta, em Cidade Ademar (zona sul de São Paulo). Com a ajuda de vizinhos, resolveu fechar a rua, rota de ônibus, com entulho.

No começo, deu resultado: a prefeitura apareceu e retirou vários caminhões de resíduos em fevereiro. O lixo, porém, já estava de volta na última sexta (13), assim como a rotina de Marise de telefonema­s para cobrar a limpeza.

Prioridade exaltada pelo exprefeito João Doria (PSDB), que já enfrentou críticas, a zeladoria da cidade patina em 2018 também na gestão de seu sucessor, Bruno Covas (PSDB), que completa cem dias inteiros oficialmen­te no cargo nesta segunda (16) —ou neste domingo (15), se considerad­a uma cerimônia simbólica de transmissã­o do cargo na tarde do dia 6 de abril.

Em seus primeiros meses, Covas reduziu a quantidade de lixo recolhido nas ruas e os gastos com serviços como varrição, capinação, lavagem de rua e pintura de meio fio. Já as queixas da população ao serviço 156 por problemas como sujeira, entulho e caçambas subiram no começo do ano.

A boa manutenção desses serviços básicos era uma promessa exaltada por Doria antes mesmo de assumir, no final da gestão Fernando Haddad (PT), quando disse que a cidade estava um “lixo vivo”.

Doria, que tinha Covas como vice e saiu do cargo em abril para disputar a eleição ao governo paulista, chegou a se vestir de gari para a exaltação do programa Cidade Linda, bandeira do mandato.

Mesmo assim, varreu menos toneladas de lixo que Haddad, enfrentou uma crise com reclamaçõe­s nessa área e se viu forçado a tirar Covas do comando da pasta de zeladoria —ele acumulava a função de vice com a de secretário das Prefeitura­s Regionais. Depois de assumir como prefeito, Covas também não decolou.

Após a diminuição em 2017, a quantidade de lixo recolhido das ruas, por exemplo, voltou a cair, 14%, nos primeiros cinco meses deste ano: de 37,9 mil para 32,7 mil toneladas. Nos primeiros dois meses de Covas, a queda alcançou 15%.

No ano passado, Doria culpou a desacelera­ção da economia pela redução do lixo recolhido. Já Covas afirma que a quantidade diminuiu em decorrênci­a de ações de educação ambiental e que a frequência de varrição segue igual.

Os gastos da prefeitura com serviços de limpeza que incluem varrição, capinação, lavagem de rua e pintura de meiofio chegaram ao menor patamar pelo menos desde 2014: nos primeiros cinco meses, caíram 19%, de R$ 441,9 milhões para R$ 359,1 milhões.

Levando em conta só os primeiros dois meses de Covas, a diminuição chega a 20%.

Esse cenário ocorre apesar do cresciment­o das reclamaçõe­s da população ao 156 no primeiro trimestre do ano, último dado já consolidad­o: as queixas envolvendo lixo e limpeza subiram em torno de 30%, de 26,5 mil para 34,3 mil.

O dado inclui assuntos diversos como remoção de grandes objetos, grandes geradores de resíduos e ferros-velhos, mas quase metade das queixas se refere à falta de varrição e a pontos viciados de lixo.

A gestão Covas diz fazer ações de fiscalizaç­ão e para reduzir lixo na rua, entre outras.

O distrito do Bom Retiro lidera em reclamaçõe­s de falta de varrição. Em seguida, vem a República, também no centro.

A cabeleirei­ra Meire Vargas, 32, que trabalha há três anos na rua dos Timbiras, perto da praça da República, diz que garis passam pouco por ali. “A gente acaba se acostumand­o com a sujeira. E com os ratos, tão grandes que podem derrubar alguém”.

O lixo virou parte da paisagem na esquina das ruas Joaquim Moutinho e Bandeiras, no Bom Retiro. “Até passam limpando às vezes, mas logo sujam de novo”, afirma Luís Sérgio Lima, 63, motorista que culpa os carroceiro­s.

Na periferia, são restos de entulho de obras que tomam ruas e calçadas. O distrito de Cidade Ademar, onde a aposentada Marise Amorim vive, está no topo das reclamaçõe­s sobre pontos viciados de lixo.

Vizinhos de Marise na rua Gabriela Basanzoni-Lage dizem haver um fluxo constante de coisas despejadas.

“É um que faz uma obra e joga aquilo que restou aí. Outro poda a árvore e traz os galhos”, afirma Bruno Lima, 20, fiscal do transporte público.

Marise diz que tem ficado cada vez mais difícil conseguir resposta da prefeitura. Segundo ela, a piora coincidiu com a troca da empresa na contrataçã­o emergencia­l do serviço. Antes da mudança, os consórcios Soma e Inova dividiam a atividade. No mês passado, também entraram as empresas Sustentare e Trevo.

São mais de 70 opções a distância ou presencial,

A renovação do contrato emergencia­l de varrição foi firmada por Covas em junho, após derrubar decisão judicial que impedia a alternativ­a.

A gestão tucana tenta, ao mesmo tempo, desemperra­r a licitação para essa área, que teve 19 irregulari­dades apontadas pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).

A empresa que cuida da varrição também é encarregad­a de serviços como limpeza de pontos viciados, lavagem de áreas públicas e higienizaç­ão das bocas-de-lobo —esta última também apresentou diminuição de 15% nos resíduos.

O pacote custa R$ 1,2 bilhão/ ano. O contrato atual venceu em dezembro de 2017. Desde então, esse serviço é prestado em caráter emergencia­l.

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Zanone Fraissat/Folhapress Lixo acumulado na esquina da rua Triunfo com a rua Vitória, na região central de São Paulo
 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Lixo em calçada do centro de São Paulo
Zanone Fraissat/Folhapress Lixo em calçada do centro de São Paulo

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