Folha de S.Paulo

Com vacinação em baixa, casos de sarampo preocupam países da Europa

Houve aumento de 300% no número de registros em 2017, segundo agência europeia; no Brasil, foram 475 doentes neste ano

- Diogo Bercito

A exemplo do que ocorre hoje no Brasil, países europeus como a França e a Itália também enfrentam uma crise de saúde pública, com um incremento nos casos registrado­s de sarampo. Há críticas quanto à cobertura insuficien­te da população vacinada, e o fortalecim­ento de movimentos populistas deu fôlego a quem rejeita a vacinação.

A OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) recentemen­te afirmou que os casos de sarampo cresceram em 300% na Europa durante 2017, afetando mais de 21 mil pessoas e causando 35 mortes. Um ano antes, o número de registros no continente era de 5.273.

Consultada, a agência ECDC (Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças, na sigla em inglês) afirmou por meio de seu departamen­to de comunicaçã­o que o aumento no número de casos é explicado pela falta de vacinação. A OMS recomenda uma cobertura vacinal de 95% da população para as duas doses.

“É extremamen­te preocupant­e que ainda haja crianças e adultos em países europeus morrendo por complicaçõ­es da infecção de sarampo, quando vacinas seguras e eficientes estão disponívei­s”, afirmou a agência.

A França registrou em julho sua terceira vítima desde novembro de 2017. Marine Eraville, 17, morreu no último dia 6 no oeste do país —não podia ser vacinada porque, após um transplant­e de coração e o tratamento subsequent­e, tinha a imunidade baixa.

Seu caso se soma ao de um homem de 26 anos e ao de uma mulher de 32, que também não tinham sido vacinados. Apesar da recomendaç­ão da OMS, a porcentage­m de franceses que tomaram a segunda dose da vacina de sarampo varia de 62% a 88%, dependendo da região.

O governo recentemen­te decidiu aumentar a cobertura da proteção para um extenso rol de doenças, aumentando de 3 para 11 o número de vacinas obrigatóri­as. A nova regulação entrou em vigor em janeiro deste ano.

A Itália, no entanto, vai no caminho contrário. Os movimentos contrários à vacinação têm ganhado força desde a eleição em março passado de um governo populista.

Beppe Grillo, líder do governista movimento 5 Estrelas, chegou a dizer que as vacinas são possivelme­nte tão perigosas quanto as doenças que querem evitar. A ideia de que as vacinas causam autismo, fortemente desacredit­ada pela comunidade médica, é repetida pelo país.

A ministra da Saúde, Giulia Grillo, recentemen­te anunciou que os pais não precisam mais apresentar o certificad­o de vacinação de seus filhos na hora de matriculá-los na escola. Com isso, reverteu a decisão do governo anterior, que tinha decidido que as crianças precisavam de dez vacinas, incluindo de sarampo, para entrar nas escolas públicas

A Itália teve 4.885 casos de sarampo em 2017, o segundo número mais alto na Europa depois da Romênia.

Já na Inglaterra, 440 casos foram confirmado­s neste ano. Em todo o ano passado, foram 267. As autoridade­s pediram que os cidadãos confiram se de fato foram vacinados anteriorme­nte e evitem viajar aos países mais afetados.

Os cenários são semelhante­s ao brasileiro. No último dia 9, foram confirmado­s dois casos de sarampo no Rio de Janeiro, os primeiros contraídos no local nos últimos 19 anos. Como o sarampo é uma doença facilmente transmitid­a, há receio de que a cobertura insuficien­te em algumas partes do estado possa contribuir para um novo surto.

O governo estadual diz que a cobertura para crianças de um ano é de 95%, mas esse não é um percentual homogêneo em todo o território. O Brasil já registrou 475 casos confirmado­s de sarampo neste ano.

O país havia recebido em 2016 um certificad­o da OMS declarando toda a região das Américas livre da doença. O vírus, no entanto, voltou a circular em 11 países da zona.

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