Folha de S.Paulo

R$ 16,4 bi em repasses para o chamado Sistema S incentivam apego ao comando

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O sistema sindical empresaria­l surgiu com o dos trabalhado­res, em 1943, quando o então presidente Getúlio Vargas lançou a CLT (Consolidaç­ão das Leis do Trabalho). O objetivo era organizar patrões e empregados para negociarem reajustes de salários e condições de trabalho.

Para financiar o sistema, o governo criou dois tributos: a contribuiç­ão assistenci­al e o imposto sindical obrigatóri­o, além do pagamento voluntário dos sindicaliz­ados.

Equivalent­e a um dia de trabalho por ano do empregado e a um percentual do faturament­o da empresa, o imposto sindical obrigatóri­o foi extinto pela reforma trabalhist­a do governo Michel Temer.

O tributo era a principal origem de recursos para os sindicatos dos trabalhado­res, mas os patronais contam também com outra fonte de receita: o Sistema S, que reúne entidades como Sesi, Senai, Senac, Senart, entre outras.

O Sistema S também foi concebido na década de 1940 para promover capacitaçã­o de mão de obra, cultura e lazer para o trabalhado­r. Até hoje, em muitas cidades, é a única fonte de formação e de diversão a preços acessíveis.

Custeado pela contribuiç­ão das empresas, passou a ser administra­do pelas federações patronais, que recebem uma espécie de “taxa de gestão”. Os presidente­s das federações se tornaram presidente­s das entidades do Sistema S em seus estados.

O apego ao comando das estruturas sindicais patronais pode ser explicado pelo imenso volume de recursos movimentad­o pelo Sistema S, que recebeu R$ 16,4 bilhões no ano passado em repasses da Receita Federal, que arrecada os recursos compulsori­amente das empresas.

A reportagem encontrou ao menos nove casos de dirigentes e ex-dirigentes de federações suspeitos de corrupção e outros crimes (leia na pág. 3).

Os sindicatos patronais seguem as mesmas regras dos sindicatos dos trabalhado­res e realizam eleições regularmen­te, com prazos que variam de três a cinco anos, dependendo do estatuto.

No caso das federações, votam os presidente­s dos sindicatos que as compõem. Os comandante­s das federações só conseguem se manter nos cargos por décadas, porque, na maioria das entidades, não há limite para a reeleição.

A Folha encontrou apenas dois casos —a Fiergs (Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul) e a Fieg (Federação das Indústrias de Goiás)— que permitem apenas um mandato e uma reeleição. secreto, democratic­amente, a cada quatro anos”. Também negou qualquer suspeita de nepotismo.

A área de comunicaçã­o da CNC informou que Antonio Oliveira Santos assumiu a presidênci­a da entidade em 1980 e que as eleições se deram por processos “abertos e democrátic­os” a cada quatro anos.

Também disse que ele manifestou a decisão de não se candidatar a um novo mandato no pleito a ser realizado em setembro. Santos tem 92 anos.

A assessoria de imprensa da Fecomercio­SP, comandada por Abram Szajman, disse que são realizadas eleições de “quatro em quatro anos” conforme previsto no estatuto.

A Fecomercio Amazonas informou que “os estatutos são cumpridos rigorosame­nte” e ocorrem “eleições normalment­e”. Segundo a assessoria de imprensa, “a experiênci­a mostra que entidades que adotam limite para a reeleição acabando voltando atrás”.

As federações do comércio do Maranhão e a federação de Agricultur­a de Santa Catarina não respondera­m aos pedidos de entrevista.

Nilson Gibson, presidente da Fetracan, negou enfaticame­nte que tenha sucedido o pai como uma espécie de “capitania hereditári­a”. Segundo ele, existem cada vez menos empresário­s dispostos a se dedicar à vida sindical.

Questionad­o sobre as iniciativa­s do sindicato do Ceará de assumir a federação, respondeu que “eles perderam a eleição”.

Leia mais na pág. 3

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