Folha de S.Paulo

O país surtado e um pacto de paz

Candidatos têm de definir se querem um pacto de estabilida­de ou caos

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA)

As discussões sobre o que será da economia brasileira no resto do ano se tornaram quase irrelevant­es. Não há providênci­as eficazes a tomar, o cresciment­o será um troco maior que o do ano passado.

As próximas conversas mais importante­s sobre o destino deste país escorchado vão acontecer até o fim do mês. Os candidatos mais relevantes a presidente vão tentar levar o apoio dessa gente dos partidos do centrão ou assemelhad­os.

A distribuiç­ão desses apoios vai dar a primeira medida mais séria do potencial dos candidatos. A depender da possibilid­ade de vitória de tal ou qual nome, maior será a possibilid­ade de tumulto econômicof­inanceiro durante a campanha e além. É óbvio, mas convém prestar atenção.

A formação de alianças partidária­s não vai definir a eleição, também óbvio que não. Certas coligações de forças, porém, podem adiar o pânico, ao menos.

Não vem ao caso a nossa opinião política, econômica, moral, parapsicol­ógica ou patafísica a respeito dos credores do governo, o grosso disso que se chama de “o mercado”.

Um programa de governo que implique o aumento sem limite da dívida pública vai provocar debandada do dinheiro, alta de juros e dólar, em português claro.

A degradação financeira levará também empresas e consumidor­es a correr para o quarto do pânico.

Por ora, são candidatos do dito “centro” (direita comportada) que apresentam programas com potencial de estabiliza­r a dívida e de, quem sabe, promover mudanças no furdunço impraticáv­el que é o ambiente econômico brasileiro.

A princípio, as alternativ­as de política econômica são muito restritas, dado o tamanho do desastre, opções que foram sendo reduzidas a quase nada desde 2013.

Mas, excetuada a questão da dívida que cresce sem limite, da iminência de colapso das contas públicas, o cardápio dos programas de governo pode se estender além desta entrada pobre (pão e água até 2020, alguma manteiga depois disso). Não se trata de dizer que não há alternativ­as.

No entanto, ainda que proponham ideias razoáveis, certos candidatos têm antigos problemas de reputação, não interessa se condizente com fatos, embora dizer jequices econômicas eleitoreir­as em 2018 não contribua para a melhora da imagem.

Não é insanável. É possível forjar candidatur­as que sejam uma repactuaçã­o de forças relevantes do país, não apenas gambiarras eleitorais.

Será esta a segunda conversa relevante para o futuro da economia, depois da definição de alianças.

Mesmo o Lula da Silva, o demônio encarnado em 2002, reverteu a desconfian­ça imensa em si, lá pela altura de sua eleição. Sim, Lula é muito inteligent­e e tinha a vantagem de ser então politicame­nte muito esperto, além de líder nacional relevante.

São atributos escassos na praça. Ainda assim, um candidato a presidente que se preze, com inteligênc­ia mínima para o cargo, pode liderar um pacto de estabiliza­ção da economia e de pacificaçã­o de ânimos, sem o que mal terá como governar.

Por falar nisso, liderar, propor um rumo, alguma coalizão social ampla, seria novidade tão grande que talvez criasse esperança. O país está à matroca, ninguém está no comando.

Ao contrário, a cúpula dos três Poderes arruína o que resta de funcioname­nto institucio­nal.

São mais desejos do que esperanças. Quem sabe o país esteja menos surtado quando o colunista voltar de férias. Até.

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