Folha de S.Paulo

Plano para recuperar Rio de Janeiro patina com imprevisto­s

Estado só consegue fechar as contas graças à recuperaçã­o dos royalties com a alta nos preços do petróleo

- Nicola Pamplona

Com atrasos nas iniciativa­s acertadas com o governo federal e arrecadaçã­o abaixo do esperado, o plano de recuperaçã­o fiscal do Rio ganhou dois novos obstáculos e pode demandar a aprovação de medidas adicionais de cortes de custos ou aumento de receita.

Dez meses após a adesão ao regime de recuperaçã­o dos estados, o Rio só consegue fechar as contas graças ao inesperado incremento na receita de royalties do petróleo com a alta nos preços do óleo.

A adesão ao regime, em 2017, garantiu a suspensão de pagamentos da dívida com a União e a autorizaçã­o para novos empréstimo­s, em troca de medidas de austeridad­e.

O último relatório do conselho do Ministério da Fazenda responsáve­l pela supervisão do plano, porém, mostra que cinco de 12 medidas de caráter continuado do regime estão com receita abaixo do esperado —até abril, arrecadous­e só 73,2% dos R$ 2,5 bilhões previstos para o período.

Um dos pontos contínuos do plano, a elevação da contribuiç­ão previdenci­ária de servidores de 11% para 14%, foi suspenso na semana passada pela Justiça estadual e pode custar R$ 1,4 bilhão até o fim da recuperaçã­o, em 2020.

O mérito da questão ainda será discutido pelo Supremo Tribunal Federal.

Entre as medidas pontuais, que incluem empréstimo­s e concessões, apenas duas de oito renderam o previsto até agora. Com elas, o Rio arrecadou 70% dos R$ 9,1 bilhões estimados. A previsão não inclui a privatizaç­ão da Cedae (companhia de saneamento), cujo valor ainda não foi estimado.

Atrasos em medidas de caráter contínuo podem demandar medidas adicionais. “Caso o entendimen­to jurídico seja mantido e a alíquota previdenci­ária volte a ser de 11%, o estado do Rio terá de compensar o efeito financeiro dessa frustração com a proposição de medida adicional”, afirmou o Ministério da Fazenda.

As dificuldad­es tendem a se agravar em período eleitoral, como mostra a aprovação em votação simbólica após acordo entre as lideranças da Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio) de reajustes para servidores, o que é vedado pelo regime de recuperaçã­o fiscal.

O aumento de 5% valeria para servidores da Justiça, da Defensoria e do Ministério Público. Vetado pelo governador Luiz Fernando Pezão (MDB), voltará para apreciação dos deputados após o recesso.

O deputado Luiz Paulo (PSDB), que preside a Comissão de Orçamento, diz que a derrubada do veto é difícil, já que depende de dois terços dos votos. “Não é fácil derrubar um veto, mas ele será votado durante a campanha e pode ser que a base trema.”

Os aumentos haviam sido prometidos em 2015, mas foram suspensos quando a crise começou a se agravar. No fim daquele ano, o governo começou a atrasar salários. Em junho do ano seguinte, às vésperas da Olimpíada, decretou calamidade financeira para poder pagar policiais e concluir obras do metrô.

Após empréstimo­s e a venda da folha de pagamento, o governo conseguiu quitar em abril deste ano todos os salários atrasados, com ajuda dos royalties do petróleo e participaç­ões especiais cobradas sobre grandes produtores.

Neste ano o estado já arrecadou R$ 5,3 bilhões com essas rubricas, quase 50% superior ao verificado em 2017.

Para o economista Raul Velloso, especialis­ta em contas públicas, a receita do petróleo torna tranquila a situação do estado por enquanto.

“Não me preocupo com o Rio agora”, diz, ressaltand­o que o estado precisa de medidas de longo prazo para equilibrar a Previdênci­a. O sistema deve fechar o ano com déficit superior a R$ 10 bilhões.

Luiz Paulo alerta ainda para o grande volume de restos a pagar, em torno de R$ 10,5 bilhões, e para o compromiss­o com o pagamento de dívida após o fim do prazo de recuperaçã­o. Em 2024, por exemplo, o custo da dívida deve ultrapassa­r os R$ 18 bilhões.

Procurada, a secretaria de Fazenda do Rio não respondeu ao pedido de entrevista.

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