Folha de S.Paulo

A grande final

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Se a Croácia for campeã —não é zebra—, será o primeiro título do pequeno e novo país. Mais que isso. Será o primeiro título mundial de uma seleção que era cotada, antes da competição, como uma equipe média. Sempre achei isso estranho, já que é frequente, em todo o mundo, um time médio, ou até um pequeno, ganhar um torneio curto, com jogos eliminatór­ios, como a Copa do Brasil. Será neste domingo?

A França, além dos quatro defensores, joga com um trio no meio-campo, com a ajuda de Mbappé, que volta para marcar pela direita, formando um quarteto, com Pogba, Kanté e Matuidi. Griezmann, vindo de trás, e Giroud, formam a dupla de atacantes, pelo centro. A Croácia, nos amistosos e nas primeiras partidas do Mundial, atuou com Modric como um meia ofensivo, e Rakitic de primeiro volante, posições em que não jogam no Real Madrid e no Barcelona.

Durante a Copa, Modric recuou para ser um volante, ao lado de Rakitic, fora também das habituais funções nos clubes. Contra a Inglaterra, na melhor atuação, a equipe jogou com um volante centraliza­do, Brozovic, e com Rakitic de um lado e Modric do outro, defendendo, apoiando e atacando, como no Real e no Barça.

Não houve uma grande novidade na Copa, a não ser o VAR, que veio para ficar. Como nos tempos atuais todos os jogadores e equipes são bastante conhecidos, nos mínimos detalhes, não há mais espaço para grandes surpresas, embora a Bélgica tenha surpreendi­do o Brasil. Na história, houve muitas seleções brilhantes, como a do Brasil de 1982. Mas foram poucas as revolucion­árias, que mudaram a maneira de jogar. Cito quatro: a inglesa de 1966, por ter sido o início da marcação com duas linhas de quatro; a brasileira de 1970, por ser a primeira a fazer um detalhado planejamen­to científico; a holandesa de 1974, a primeira a marcar por pressão; e a espanhola de 2010, inspirada no Barcelona dirigido por Guardiola, que influencio­u o futebol de todo o mundo.

As transforma­ções no futebol ocorrem aos poucos e passam despercebi­das. De repente, enxergamos o óbvio, que muitas coisas estão diferentes, como nos últimos 15 anos, e que, no Brasil, só se deu importânci­a após os 7 a 1. Assim ocorre também na história e na vida. Quando olhamos no espelho, levamos um susto ao constatarm­os que envelhecem­os e que temos de correr atrás da vida, antes que ela acabe.

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