Folha de S.Paulo

Afinal, é a vida

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

OK! Sejamos francos como sempre, rara leitora, raro leitor.

Temos neste domingo (15) uma decisão de Copa do Mundo e o sentimento maior que sobrevém é o da frustração.

Queríamos ver a seleção brasileira e teremos as da Croácia e da França no gramado moscovita. Você pode até mesmo estar lendo estas mal traçadas embora nem vá ver o jogo na TV.

Copa do Mundo de novo só daqui a quatro anos e olhe lá, porque essa coisa de o hexacampeo­nato parecer cada vez mais distante dá um desânimo danado. Pois eu verei. Por obrigação, no estádio Lujniki. Por gosto, veria na televisão.

Será a primeira final de Copa do Mundo em gramado artificial, no estádio que um dia se chamou Estádio Central Lênin. Com o fim da União Soviética o nome mudou, mas a enorme estátua do líder da Revolução Russa permanece na porta do estádio e nada indica que de lá sairá. Será minha sétima final in loco. Estive nas de Madri, em 1982; Roma, em 1990; Los Angeles, em 1994; Paris, em 1998; Joanesburg­o, em 2010; e no Rio, em 2014. A de que mais gostei foi a nos Estados Unidos. A pior foi a da França. Porque numa o Brasil ganhou e noutra perdeu...

As demais, sempre sem a presença brasileira, estão gravadas na memória, mas não são, por assim dizer, inesquecív­eis.

Tanto que, em 1986, preferi voltar para casa a ver Alemanha x Argentina, na Cidade do México, razão pela qual nunca fui ao Estádio Azteca, falha grave na minha formação.

Em 2006, embora permaneces­se em Berlim, vi pela TV, não fui ao maravilhos­o Estádio Olímpico, por falta de ingresso para Itália x França.

Tudo isso para dizer que também verei a decisão da 21ª Copa do Mundo com uma ponta de frustração, a 14ª sem a seleção brasileira. Mas, pense, o futebol brasileiro esteve em um terço das finais —é coisa para chuchu.

E, infelizmen­te, acostume-se, porque a tendência é ficarmos de fora nas próximas, a menos que tudo mude no país, o que é improvável.

Não que a Croácia supere o nosso futebol, embora seu time tenha mais jogadores extraclass­e como Modric, Mandzukic e Rakitic, pois hoje em dia nos faltam Pelétic, Zicovic e Ronaldic.

Assim como a França desfila seus craques, Pogba, Griezmann e Mbappé, e não temos mais Garrinchá, Socratês e Romariô. Afinal, é isso. Lidar com a frustração é das coisas mais difíceis, e necessária­s, de nossas vidas.

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