Folha de S.Paulo

Corda esticada

Acerca de estratégia eleitoral do PT em torno de Lula.

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Mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva preso há mais de três meses e após sucessivas derrotas nos tribunais, o PT parece longe de abandonar a estratégia que escolheu para as eleições de outubro.

O partido mantém a disposição de registrar seu líder como candidato à Presidênci­a, ignorando o veto imposto pela Lei da Ficha Limpa a políticos que têm condenação confirmada por um colegiado.

O plano dos petistas é pedir o registro em 15 de agosto, prazo final estabeleci­do pela legislação. Ainda não se sabe exatamente como o Tribunal Superior Eleitoral tratará o pedido, mas é certo que o PT recorrerá contra qualquer decisão que implique sua rejeição.

Ao pesquisar a jurisprudê­ncia sobre o assunto, a equipe que assessora Lula identifico­u dezenas de casos de candidatos que puderam disputar após recorrer contra o indeferime­nto do registro —e vários que conseguira­m reverter suas sentenças após a eleição.

Condenado pelo juiz Sergio Moro a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o expresiden­te teve a sentença reafirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e perdeu todos os recursos que apresentou a cortes superiores até agora.

Embora as possibilid­ades de revisão da condenação se afigurem remotas, a aposta dos petistas é que, de recurso em recurso, terão con- dições de prolongar a indefiniçã­o até o ponto em que ficará tarde demais para impedir que a foto de Lula apareça na urna eletrônica quando o eleitor digitar o número do PT.

A tese de que Lula é inocente e só foi condenado porque é perseguido por Moro e pelos procurador­es da Lava Jato não encontra acolhida nos tribunais, mas ajuda a manter a militância coesa.

Não foi outro o sentido da extravagan­te manobra tentada há uma semana pelos três deputados que convencera­m o juiz federal Rogério Favreto a determinar a libertação de Lula, ordem que acabou revogada antes de ser cumprida.

Embora o líder petista continue longe das ruas, o episódio serviu para reforçar a pressão de seus aliados sobre o Judiciário, que tende a aumentar se for levada adiante a greve de fome anunciada por militantes de movimentos sociais.

Lula alcançou 30% das preferênci­as na última pesquisa do Datafolha. Se a Justiça barrá-lo, sua força eleitoral parece suficiente para tornar competitiv­o quem o PT indicar para o seu lugar —os mais cotados são o ex-prefeito Fernando Haddad e o ex-ministro Jaques Wagner.

A lei permite que a substituiç­ão ocorra até 17 de setembro, quando faltarão três semanas para o primeiro turno. Talvez seja o suficiente para um petista chegar ao segundo turno. Mais difícil é enxergar o que o eleitor poderá ganhar esperando tanto tempo por uma definição.

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