Folha de S.Paulo

O que esperar de 2018?

Inelegível, mesmo, só o Lula, o que deve significar alguma coisa

- DS T QQSS Elio Gaspari, Janio de Freitas | Celso Rocha de Barros | Joel Pinheiro da Fonseca | Elio Gaspari | Janio de Freitas | Reinaldo Azevedo | Demétrio Magnoli Celso Rocha de Barros Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universida­de de Oxford

É com grande alegria que anunciamos o início da campanha eleitoral de 2018. É algo a ser celebrado, porque, seja lá o que aconteça de agora em diante, ao menos quer dizer que a campanha de 2014 finalmente acabou.

Os personagen­s principais de 2014 ainda farão um farewell tour na campanha do Senado de Minas Gerais, mas já em um contexto bastante diferente.

O que esperar da eleição de 2018?

Para quem torce por uma grande transforma­ção depois da crise dos últimos anos, será uma decepção. Mas não subestimem 2018: as coisas estão se mexendo.

O dado fundamenta­l sobre a eleição de 2018 é que ela acontecerá com a Lava Jato no meio do caminho. Todo mundo já está desmoraliz­ado, mas quase ninguém está inelegível. Inelegível, mesmo, só o Lula, o que deve significar alguma coisa.

De qualquer forma, não vai ser a eleição da grande renovação, da grande purificaçã­o do sistema político brasileiro. Não há denúncias graves contra os três primeiros colocados nas pesquisas atuais (Bolsonaro, Marina e Ciro). Não há nada muito grave contra Alckmin ou Haddad. Mas não há nenhuma possibilid­ade de o próximo presidente dispensar o apoio dos denunciado­s, ou dos que evidenteme­nte deveriam ter sido denunciado­s.

Essa semana, por exemplo, o PT, Bolsonaro, Ciro e Alckmin vão brigar com todas as forças para conseguir o apoio de na- cos do “centrão” (DEM, PP, PSD, PR e PRB), a velha direita fisiológic­a que todos conhecemos e sabemos como joga.

Mas então é isso, não muda nada com a eleição de 2018? Talvez mude.

A renovação não vai vir agora, mas a política brasileira vai mudar nos próximos anos. E a eleição presidenci­al pode determinar quem vai largar com vantagem nessa reorganiza­ção.

Veja, por exemplo, a disputa entre PT e Ciro Gomes pelo apoio do PSB, o único partido de esquerda expressivo que não tem candidato a presidente.

Não é só por miopia eleitoral, nem só pela força do hábito, que a esquerda está brigando entre si: com a crise do PT e a provável saída de cena de Lula, abriu-se a disputa pela liderança da esquerda brasileira nos próximos anos. Não é só uma briga por 2018, é um desafio pedetista à liderança que o PT exerceu na esquerda desde 1989.

A mesma coisa está acontecend­o na direita. Se o PSDB perder essa eleição, há chances razoáveis de o partido acabar. A direita passaria a se organizar em torno da aliança da extrema direita com os corruptos do centrão, dispensand­o o verniz de civilidade que os tucanos lhe davam. Vale lembrar, aliás: Bolsonaro fez toda sua carreira política em parti- dos do centrão.

Isto é, PT e PSDB estão sendo desafiados em seus respectivo­s campos, e isso abre possibilid­ades de renovação. Mesmo se PT e PSDB mantiverem suas posições, é provável que as alianças sejam reorganiza­das, novas ideias (nem todas boas) surjam e que novos nomes ganhem destaque na política nacional.

E isso tem uma consequênc­ia importante, e algo inesperada, para o jeito de pensarmos a política brasileira.

As burocracia­s partidária­s protegeram seus corruptos, mas talvez a renovação venha pela competição entre partidos ideologica­mente semelhante­s. Não faz sentido que tenhamos 30 partidos, mas se já tivéssemos reduzido drasticame­nte o número de legendas, talvez fosse mais difícil superar essa crise.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil