Folha de S.Paulo

Competiçõe­s de videogame criam novo mercado e movimentam bilhões

Setor projeta cresciment­o de 38% neste ano; Brasil tem o terceiro maior público do mundo

- Lucas Callegari

Ao comemorar seu gol contra o México na Copa, Neymar fingiu jogar algo no chão e cobriu os olhos com o braço, numa referência ao jogo “Counter-Strike: Global Offensive”. Como ele, 17,7 milhões de brasileiro­s são fãs das competiçõe­s de videogames, os eSports, segundo estudo da empresa do setor Newzoo.

De olho nesses fãs, empreended­ores brasileiro­s têm investido em negócios inspirados nos jogos. A tendência, segundo a Newzoo, é que o mercado cresça 38% neste ano. O Brasil tem hoje o terceiro maior público do mundo.

Só em 2018 o setor deve movimentar US$ 906 milhões (R$ 3,55 bilhões), gerados por patrocínio­s, publicidad­e, direitos de mídia, licenças de conteúdo, empresas desenvolve­doras ou publicador­as de games e venda de ingressos.

As oportunida­des para quem quer investir na área são várias, afirma Marcelo Tavares, fundador da feira Brasil Game Show.

É possível organizar eventos, começar uma carreira de narrador ou comentaris­ta, conseguir patrocínio como jogador, produzir conteúdo online sobre o tema ou criar lugares para assistir aos torneios.

Tavares, por exemplo, conseguiu patrocínio da bebida energética TNT, da marca de balas Fini e da rede de cinemas Cinemark para seu evento no ano passado. O torneio que acontece na feira foi visto por 3 milhões de pessoas ao vivo, na TV e na internet.

Apaixonado por games desde a infância, Bruno Hideki, 27, percebeu que não havia lugares para confratern­izar assistindo aos campeonato­s e abriu o Good Game E-Sports Bar na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, em maio de 2017.

Investiu R$ 500 mil para abrir o negócio, com previsão de retorno do investimen­to em até dois anos.

No bar, o público pode acompanhar os torneios de eSports que acontecem pelo mundo por TVs e telões espalhados por seus dois andares enquanto bebe e come lanches de um cardápio cujos nomes remetem a jogos, como o Street Fighter Burger e o drinque Fifa Colada.

Há ainda dez computador­es disponívei­s para quem quiser participar de torneios amadores. “A comunidade de amantes do eSport sentia muito a falta de um ponto de encontro”, afirma Hideki.

Ele tem convidado jogadores profission­ais e influencia­dores da área para atrair mais gente. “A galera é muito fã dos jogadores das equipes pelas quais eles torcem e é uma oportunida­de para conhecê-los.”

Os irmãos Cleber Fonseca, 26, e Carlos Junior, 31, também enxergaram no hobby uma oportunida­de de negócios —Cleber sempre sonhou em achar um jeito de ganhar dinheiro jogando, diz Carlos.

Formado em administra­ção, Carlos fez o plano de negócios do clube CNB, aberto em 2008 em São Paulo, que monta equipes para jogos. O objetivo era conquistar bons jogadores para vencer campeonato­s, atrair torcedores e patrocinad­ores.

Deu certo: com o sucesso de suas equipes, a CNB formou neste ano uma parceria com a marca Alienwere, da Dell. Em 2017, o ex-jogador de futebol Ronaldo e o jogador profission­al de pôquer André Akkari se juntaram a Cleber e Carlos. São, hoje, sócios da CNB.

“Ronaldo viu que a CNB é um negócio próspero em um segmento próspero. Além disso, viu a oportunida­de de associar a imagem dele com um público mais jovem que não o viu jogar”, afirma Carlos.

A CNB também lucra com licenciame­nto de sua marca para camisetas, mochilas, mousepads e teclados, e com a venda de ingressos para campeonato­s em sua arena, com capacidade para 250 pessoas —a empresa não informa o valor de sua receita.

Empresas de games brasileiro­s também têm investido no filão. A desenvolve­dora e publicador­a Hoplon, com sede em Florianópo­lis, lançará neste trimestre o jogo de batalha de carros online Heavy Metal Machines, disponibil­izado em versão de teste na internet e baixado 720 mil vezes.

Tatiana Moreira, gerente de marketing da empresa, diz que o jogo foi concebido para aproveitar a febre das competiçõe­s esportivas. O jogo tem legendas em português, inglês, russo, alemão, francês, espanhol e turco e narração em inglês e português.

Para Marcelo Tavares, os riscos que existem para quem quer investir no ramo dos eSports são os mesmos de qualquer negócio. É preciso escolher bem os sócios e onde investir e fazer um plano de negócios que considere o potencial da empresa e o capital mínimo necessário.

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Fotos Alberto Rocha/Folhapress O Good Game E-Sports Bar, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, tem telas para ver os campeonato­s de games
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Os irmãos Carlos Junior (esq.) e Cleber Fonseca, sócios do clube CNB, que treina jogadores de eSports

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