Folha de S.Paulo

Qatar conservado­r não evitará festa na Copa, diz dirigente

Sede do próximo Mundial ainda vive indefiniçã­o sobre venda de bebidas e número de equipes na competição

- Fábio Aleixo

Em pouco mais de quatro anos, de 21 de novembro a 18 de dezembro de 2022, o Qatar sediará a Copa do Mundo. Será a primeira vez que o torneio não acontece no meio do ano. O motivo é o calor no país do Oriente Médio. Durante o Mundial, no inverno qatariano, a temperatur­a deve ficar entre 15 °C e 24 °C.

Antes do início da competição, há decisões importante­s a serem feitas, que afetarão seleções e torcedores. O torneio foi planejado para 32 seleções e é com isso que os organizado­res trabalham. Mas ainda há chances de expansão para 48 equipes.

A outra discussão é sobre venda de álcool em estádios e Fan Fest, exigência da Fifa nas últimas Copas, mas que esbarra na tradição islâmica e na proibição do consumo de álcool em lugares públicos.

“Temos de dizer que o Qatar é um país conservado­r. Estamos estudando como podemos ter álcool para os fãs e fazer com que isso não afete nossa cultura e o conservado­rismo das pessoas. Queremos ter certeza que agradaremo­s aos fãs e outras culturas para que haja festa”, disse à Folha Nasser Al Khater, vice CEO do COL (Comitê Organizado­r Local) do Qatar-2022.

Como está a preparação do Qatar para a Copa?

Os preparativ­os vão bem e de acordo com o planejado. Completamo­s um de oito estádios e até o fim do ano entregarem­os mais dois. Depois, serão mais dois até o fim de 2019 e teremos todos eles prontos até 2020. Então não haverá nenhum tipo de problema.

Nossa malha rodoviária está em expansão massiva já há algum tempo e também até 2020 teremos tudo pronto no que tange a esta infraestru­tura. O metrô de Doha deve ficar pronto até o fim deste ano e em 2019 serão abertas as primeiras estações. Em 2020, também estará funcionand­o normalment­e.

Há um bloqueio político e econômico das nações vizinhas lideradas por Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Isso tem causado problemas na preparação?

Não. Nada mudou no andamento das obras, nem em nosso orçamento. Não bloqueamos ninguém, nós é que fomos bloqueados. Nossos cidadãos não podem ir a muitos países, mas todos podem vir ao nosso. Na Copa, todos serão bem-vindos. Se as seleções desses países se classifica­rem, você deve perguntar a eles se virão. Mas para nós todos os torcedores são iguais. Não misturamos esporte e política.

Sabemos que há problemas também com Israel. Eles poderão entrar no Qatar?

Qualquer pessoa poderá entrar no país durante a Copa. Eles podem entrar no Qatar atualmente, mas não querem. Mas não existe nenhuma restrição, tanto que já recebemos atletas israelense­s das mais diversas modalidade­s para eventos.

No Qatar, a venda e o consumo de álcool são proibidos. Apenas em locais específico­s ou hotéis há permissão. Como isso vai funcionar na Copa do Mundo?

Antes de tudo temos de dizer que o Qatar é um país conservado­r. Mas também somos hospitalei­ros. Recebemos estrangeir­os e temos uma grande comunidade de expatriado­s há muitos anos. Temos experiênci­a e há lugares específico­s onde há venda restrita de álcool.

Estamos estudando agora para ver como podemos ter álcool para os fãs e fazer com que isso não afete nossa cultura e o conservado­rismo das pessoas. Queremos ter certeza que agradaremo­s aos fãs e outras culturas e haja festa. Mas temos de entender também que cada Copa é a celebração da cultura de um país. Então estamos procurando uma solução, um meiotermo que agrade a todos.

Vimos muito casos de constrangi­mento a mulheres na Rússia, repórteres sendo beijadas ou abraçadas à força. Qual será a atitude se isso acontecer no Qatar?

Eu, particular­mente, não tive conhecimen­to desses casos. Mas, obviamente, havendo algo do tipo não será tolerado. Mas claro que não temos como controlar todos os torcedores.

Muito se falou em corrupção e compra de votos para a eleição do Qatar como sede da Copa. Qual a posição de vocês sobre isso?

Eu não gosto de falar sobre alegações porque nós, por quatro anos, estivemos dizendo às pessoas que nos comportamo­s da maneira mais ética. Aceitamos todas as investigaç­ões, seja da Fifa ou de qualquer outro órgão. A Fifa investigou, houve a publicação do relatório de Michael Garcia e aí a mídia ocidental estava esperando o momento de o Qatar estar envolvido nisso e perder a Copa. Depois, teve a investigaç­ão do FBI e do Departamen­to de Justiça dos Estados Unidos e todos esperavam que estivéssem­os envolvidos e fossem nos tirar a Copa. Recebemos muito bem todas as investigaç­ões e todas nos deixaram limpos, enquanto houve muitas pessoas punidas. Mas conosco não houve nada. Queremos que jornalista­s e organizaçõ­es de mídia sejam mais responsáve­is e não criem uma agenda contra o Qatar.

Nos últimos meses houve um movimento da Conmebol para ampliar a Copa de 2022 para 48 seleções e sabemos que Infantino gosta da ideia. O Qatar está pronto para uma Copa ampliada?

Temos de tomar essa decisão antes do início das eliminatór­ias (cuja data ainda não foi definida). O nosso plano sempre foi uma Copa de 32 times, e falamos isso. Depois, houve essa proposta. Haverá um estudo de viabilidad­e. Temos de entender o formato de uma Copa maior para só depois decidir. É difícil falar no momento.

Já foi discutida a possibilid­ade de fazer a Copa com 48 times e em conjunto com algum país vizinho?

Toda a discussão foi para uma Copa com 32 times no Qatar. Não sei como funcionari­a uma Copa do Mundo com 48 seleções.

Trens grátis para os fãs e a Fan ID (identidade do fã) funcionara­m bem na Rússia. Pretendem adotar essas medidas? Que lições podem tomar deste Mundial?

Estamos olhando agora para a questão do transporte, consideran­do diferentes opções para quem tiver ingressos. Quando se fala da Fan ID, temos de entender ao certo o sucesso e ver como funcionou e o que mais ofereceu além da questão da segurança e visto grátis. O Qatar tem política de visto na chegada que engloba mais de 90 nacionalid­ades. Temos de ver se funcionará para a questão de segurança. Temos que conversar com as autoridade­s antes de tomar uma decisão.

O Qatar é um país pequeno, e Doha terá quatro estádios. Vocês esperam uma concentraç­ão muito grande de pessoas nela? Há estrutura nas outras cidades para receber os torcedores?

Temos muito a oferecer a quem for para a Copa. Temos deserto, praia e infraestru­turamuitom­oderna. O fato que você vai ter 32 seleções e torcedores delas em Doha e nos arredores é incrível para a atmosfera e o sentimento de Copa. Aqui em Moscou, nas áreas centrais há grande concentraç­ão de pessoas e o clima de festa. Mas saindo um pouco da cidade você já não vê isso. No Qatar, você terá muito mais. Serão atrações em diversas áreas.

O sucesso da seleção da casa é importante. A seleção do Qatar nunca foi para uma Copa e é muito frágil, sendo apenas a 98ª colocada no ranking da Fifa. O que esperar do time em 2022?

Nossa seleção está evoluindo, estamos melhorando. Temos muitos jogadores jovens que estão indo para equipes do exterior, e a federação tem feito um trabalho forte. Claro que precisamos de mais tempo. Mas acredito que em 2022 teremos um time que nos faça orgulhosos. Geralmente as pessoas gostam das seleções do país-sede e espero que isso aconteça conosco.

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