Folha de S.Paulo

Enganação maravilhos­a

- Alvaro Costa e Silva

Desde o início a proposta era um desastre arquitetôn­ico: plantar uma Dubai no Rio. A intervençã­o na zona portuária, que pretendia transforma­r espaços abandonado­s e precários em um centro turístico-financeiro, baseava-se na construção de prédios de até 50 andares, conjunto de torres no estilo do que fez da maior cidade dos Emirados Árabes um monumento à ostentação e ao mau gosto.

Vendido como uma parceria público-privada (PPP) em 2009, o negócio deu com os burros na água da baía de Guanabara, que fica ali em frente. O fracasso até poderia ser um sinal de sorte para os cariocas se não tivesse subtraído aos cofres públicos mais de R$ 280 milhões. Uma conta que ainda está barata, pois a previsão é custar muito mais à prefeitura. Para manter a área “revitaliza­da” —esse adorável eufemismo de linguagem—, será necessário gastar cerca de R$ 140 milhões anualmente.

É um enorme espaço na região central, mais ou menos equivalent­e a uma Copacabana inteira, a que deram o nome engana-bobo de Porto Maravilha. Tal um barco sem leme, está à deriva. O fundo imobiliári­o administra­do pela Caixa Econômica Federal, que deveria financiar as obras de infraestru­tura e manutenção (só dois túneis construído­s, Rio 450 e Marcello Alencar, custam R$ 40 milhões por ano), está insolvente, sem condições de honrar o acordo.

A PPP ainda teria de liberar, até 2026, cerca de R$ 4 bilhões, mas pelo jeito... Os investidor­es não apareceram, e a culpada, como sempre, é a crise.

Na vitrine do Porto Maravilha estava o ex-prefeito Eduardo Paes, hoje candidato a governador. O pepino acabou nas mãos de Marcelo Crivella, péssimo administra­dor que já deu prova de não gostar da cidade nem dos cariocas —prefere trabalhar para os fiéis do grupo religioso a que pertence. A sobrevivên­cia do Boulevard Olímpico, que se tornou ponto obrigatóri­o de visitação turística, está por um triz. Uma maravilha.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil