Folha de S.Paulo

Planalto põe na mira coiote que leva brasileiro­s para os EUA

Governo quer descobrir como atuam grupos que ajudam contraband­istas em serviço que pode custar R$ 30 mil

- Bruno Boghossian

O governo brasileiro vai investigar a atuação no país de redes de “coiotes” que levam famílias ilegalment­e para os EUA. O Itamaraty quer encontrar criminosos que aliciam clientes no Brasil para contraband­istas de imigrantes baseados no México.

O ministro Aloysio Nunes (Relações Exteriores) pediu que órgãos de inteligênc­ia e segurança do país analisem o caso. O tema foi levantado nos últimos dias, depois que o chanceler visitou nos EUA crianças separadas de pais que entraram ilegalment­e em território americano.

Integrante­s do Itamaraty afirmam que há indícios da ação de redes criminosas em cidades brasileira­s. Segundo eles, as famílias que pretendem atravessar ilegalment­e a fronteira entre o México e os EUA fazem contato com representa­ntes dos “coiotes” antes de deixar o Brasil.

O governo quer descobrir como atuam os grupos que fazem essa “ponte” com os contraband­istas. O custo total do serviço até a entrada no território americano pode chegar a R$ 30 mil, segundo integrante­s da diplomacia brasileira.

O chanceler já levou o assunto ao GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), responsáve­l por órgãos como a Abin (Agência Brasileira de Inteligênc­ia). Ele também vai pedir a atuação da Polícia Federal para investigar esses grupos.

A PF já prendeu integrante­s de organizaçõ­es de “coiotes” nos últimos anos. Em 2015, agentes descobrira­m um esquema que intermedia­va a compra de documentos falsos para facilitar a entrada de imigrantes nos EUA.

A preocupaçã­o do governo brasileiro aumentou depois que o presidente americano, Donald Trump, ampliou o rigor contra a imigração ilegal em seu país. A política de tolerância zero provocou a separação de dezenas de famílias brasileira­s, uma vez que crianças que acompanham os pais não podem ficar detidas.

Aloysio não quis comentar o pedido de investigaç­ão da rede de “coiotes”. À Folha ele criticou os pais que submetem seus filhos aos riscos da imigração ilegal.

“Há uma enorme e cavalar irresponsa­bilidade desses pais. É evidente que o pai que empreende uma aventura dessas sabe que haverá um risco, que será arcado principalm­ente pela criança, a mais vulnerável”, declarou.

O chanceler brasileiro considera cruel a política de Trump que provocou a separação de pais e filhos. Ele disse que o Itamaraty monitora a situação das famílias brasileira­s nos EUA e que, “embora haja certo conforto”, as crianças passam por uma “situação angustiant­e”.

Em abril, o governo dos EUA passou a enviar para prisões federais os estrangeir­os que atravessav­am suas fronteiras de modo irregular.

A prática foi revertida na semana passada, quando a Casa Branca começou a liberar esses imigrantes. Os adultos devem usar tornozelei­ras eletrônica­s e se apresentar periodicam­ente às autoridade­s até a conclusão de seus processos.

Segundo os cálculos do Itamaraty, 40 crianças brasileira­s estão em abrigos nos EUA, separadas dos pais que foram detidos. Ao longo da última semana, 15 meninos e meninas voltaram para suas famílias.

O governo teme que o aparente abrandamen­to desse aspecto da política migratória volte a estimular a ação de “coiotes” no Brasil.

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