Folha de S.Paulo

Caso Stormy expõe cacofonia de leis de strip

- Danielle Brant

A rápida passagem da atriz pornô Stormy Daniels pelo sistema prisional de Ohio causou estranheza em muitos principalm­ente pela acusação feita pelas autoridade­s: a dançarina teria tocado e se deixado tocar por clientes de um clube de striptease, o que é proibido no estado.

A regra é uma das muitas que estabelece­m parâmetros para o funcioname­nto de um clube de striptease e para a atuação dos funcionári­os que trabalham nesses locais.

Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, ficou conhecida ao afirmar ter feito sexo com o presidente Donald Trump em 2006, quando ele já era casado com Melania Trump —o republican­o nega a relação com a atriz.

No caso dela, as acusações foram retiradas por uma tecnicalid­ade: a regra de Ohio se aplica apenas a dançarinas que se apresentem regularmen­te no clube —ela era uma convidada especial.

São muitas as regras que permeiam os clubes de strip nos EUA, indústria que faturou US$ 7 bilhões (R$ 27 bilhões na cotação atual) nos 12 meses até março de 2017, segundo a consultori­a IbisWorld.

No país, cada estado tem autonomia para legislar sobre o assunto.

Mais do que isso: cada condado e cidade também pode ter regras próprias. Um lugar mais conservado­r, por exemplo, tende a ter restrições que, na prática, inviabiliz­am a abertura de clubes do tipo.

Vermont é um desses lugares. No estado inteiro, há apenas um clube de striptease, contabiliz­a o advogado Corey Silverstei­n. “São regras tão diferentes que tornam extremamen­te difícil ou impossível obter uma licença”, diz.

E ele periga perder a permissão para funcionar após um cliente ser flagrado por um fiscal tocando uma das dançarinas, o que é proibido no estado —funcionári­os nus, seminus ou parcialmen­te cobertos devem manter distância de cerca de 90 cm dos clientes.

Em New Hampshire, há três casas, e nenhuma permite nudez total. As dançarinas usam adesivos nos mamilos e biquínis na parte inferior.

O conceito de nudez, aliás, é algo que varia conforme a legislação.

No Arizona, é a exposição dos órgãos genitais masculinos ou femininos e também da auréola ou mamilo dos seios femininos. No Novo México, mostrar a área genital primária (púbis, pênis, testículos, vulva ou vagina) é considerad­o nudez.

A restrição a tocar nas dançarinas, além de fazer parte da etiqueta dos clubes, está em regras que variam de acordo com cada local. Por trás da limitação estão preocupaçõ­es com saúde, pela possibilid­ade de transmissã­o de doenças.

Também há a segurança da dançarina em risco, com a avaliação de que um cliente bêbado seria mais propenso a agredir sexualment­e uma funcionári­a, de acordo com o advogado Marc Randazza.

“Há ainda a justificat­iva de que, se um cliente tocar a stripper, estaria mais inclinado a se envolver em prostituiç­ão com ela”, diz. Nos EUA, a prostituiç­ão só é legal em 1 dos 50 estados: Nevada.

Outras limitações dizem respeito à distância em relação a igrejas ou escolas.

Em Delaware, os clubes são proibidos de operar em um mesmo prédio onde já exista um estabeleci­mento adulto. Também não podem ficar a menos de 850 metros de uma escola ou igreja.

A justificat­iva muitas vezes está baseada no impacto secundário que teria na vizinhança, como aumento da criminalid­ade e do trânsito e desvaloriz­ação dos valores das propriedad­es.

Também há restrições de horários de funcioname­nto. Em Baltimore, não podem funcionar das 2h às 12h. Em Delaware, são proibidos de abrir antes das 10h e não podem funcionar depois das 22h.

Na Flórida, um dos lugares mais amigáveis a esses clubes, algumas localidade­s recentemen­te começaram a impor mais restrições. É o caso da cidade de Opa-locka, afirma a advogada Raven Liberty. “Eles estão tentando colocar regras extras aos clubes, dizer quando podem ficar abertos. Essas limitações não existem na lei da Flórida”, diz.

Parte do atrativo desses lugares é o álcool. Mas, ainda assim, há clubes que não podem servir bebidas alcoólicas. Em Nevada, só um estabeleci­mento oferece striptease e drinques. Os demais tem que optar entre um e outro, diz o advogado Randazza.

Há restrições envolvendo as dançarinas, como a de Detroit, em que as strippers precisam de uma permissão para dançar.

Ou no Texas, que cobra uma taxa de US$ 5 (R$ 19) por cliente. O valor deve ser pago até o 20º dia do mês seguinte ao fim do trimestre. Parte do dinheiro vai para o fundo do programa de agressão sexual, e o restante é usado para dar cobertura de saúde para moradores de baixa renda.

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Joe Raedle 9.mar.18/Getty Images/AFP Stormy Daniels participa de show em clube de strip na Flórida

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